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Portugal é o “epicentro do cultivo e produção de canábis”, revela CEO da Somaí Pharmaceuticals

Com uma das maiores infraestruturas para cultivo e produção de canábis, Portugal é o maior exportador europeu desta planta para fins medicinais, sendo o segundo maior a nível mundial, ficando apenas atrás do Canadá. No entanto, o consumo medicinal no país é bastante baixo.
16 Janeiro 2025, 07h00

A Somaí Pharmaceuticals é uma empresa farmacêutica e biotecnológica europeia, que se dedica à produção de produtos à base de canábis. Atualmente produz cerca de 100 produtos em formato de soluções orais, óleos para inalação, sprays orais, cápsulas moles e flor seca da cannabis.

Com as instalações no Carregado, em Lisboa, a Somaí Pharmaceuticals realiza todo o processo de preparação dos medicamentos, tendo adquirido este ano a empresa produtora de cannabis medicinal RPK Biopharma por 1.850 mil euros em dinheiro e três milhões em dívida. Esta aquisição vai permitir uma aceleração significativa na liderança global da Somaí e melhorar a capacidade da empresa de fornecer um portfólio inovador e diferenciador, e vai tornar possível fazer todo o produto ‘Made in Portugal’.

Michael Sassano, fundador e CEO interino da Somaí, revelou ao Jornal Económico que inicialmente “era previsto termos a fábrica na Grécia, no entanto, em conversações, percebemos que os reguladores não gostavam de canábis. Começámos então a falar com ex-reguladores portugueses, que nos revelaram que os reguladores queriam investimento de empresas farmacêuticas para exportar canábis, apesar do seu consumo no país ser bastante residual”.

“Atualmente, grande parte do nosso produto é para exportação, principalmente para Alemanha, Reino Unido e Austrália, no entanto Portugal é o epicentro do cultivo e produção de canábis”, salienta Michael Sassano.

Tanta exportação leva a pensar se não seria mais vantajoso ter a fábrica num país onde houvesse maior consumo. Todavia, o CEO da Somaí afirma que “os outros países não têm as infraestruturas necessárias. Um dos pontos fundamentais é ter locais para crescer a flor, e a flor não cresce em todo o lado. Em Portugal cresce muita flor, ou seja, deixa de ser necessário importar. Para além deste fator, Portugal tem mais uma vantagem, a nível regulatório é mais fácil para exportar”.

O investimento inicial na fábrica em Portugal foi de 26 milhões de euros, segundo revela Michael Sassano, embora tenha contado com o investimento inicial de 5,5 milhões de euros por parte dos seus parceiros, que mais tarde voltaram a investir a mesma quantia na empresa. “O primeiro investimento foi para construir as infraestruturas de última geração da fábrica, enquanto que o segundo investimento foi mais direcionado para as ligações comerciais da empresa e restantes países”, referiu Anton Nakhodkin, managing director.

O mercado mundial de canábis tinha um valor de 43.72 mil milhões de dólares em 2022, estando previsto crescer até aos 444.34 mil milhões de dólares em 2030. Em 2022, o mercado norte americano tinha uma participação de 81,79%.

Depois de terem dado mais um passo e adquirido uma empresa produtora de canabis, Michael Sassano revela que a próxima etapa é “educar os médicos e hospitais portugueses, para que passem a utilizar este tipo de medicamento natural em detrimento de outros mais químicos”. “Portugal é muito conservador no uso dos medicamentos, o que é bom. Nós não estamos aqui para alterar o ambiente regulatório, mas podemos educar as pessoas para que saibam que há uma melhor alternativa”.

A Somaí entrou no mercado apenas este ano, sendo que o preço dos seus produtos rondam os 70 euros para um mês. “Entre os 70 e 80 euros é um bom valor para o mercado português”, salientou Michael Sassano.

Este tipo de medicamentos ainda não é comparticipado pelo Estado, no entanto o CEO da Somaí considera que ainda “não vamos pedir demais a Portugal”, salientando que, primeiramente, “era importante que o país abrisse mais os horizontes ao uso destes medicamentos e depois lutemos pela comparticipação”.

No início deste ano, existiam em Portugal 37 empresas licenciadas para o cultivo de canábis, 23 licenciadas para a fabricação, 47 para a importação e exportação e 13 licenciadas para a distribuição, segundo dados do Infarmed.

Apesar de ter um fraco consumo de canábis medicinal, Portugal é o maior país europeu exportador deste produto, sendo o segundo maior mundialmente, perdendo para o Canadá. No terceiro trimestre deste ano, o nosso país exportou quase 19 toneladas de canábis medicinal, um valor superior ao registado em 2023, ano que terminou com cerca de 12 toneladas exportadas. A previsão para 2025 é que Portugal termine o ano com um total de 25 toneladas deste produto exportadas.

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