A União Europeia está empenhada em apostar na energia azul como forma de contribuir para um futuro climaticamente neutro, com impactos industriais, económicos e sociais positivos. Os grandes desafios passam por mobilizar fundos suficientes para a investigação, e criar economias de escala, para reduzir os custos destas tecnologias no mercado a tempo de fazer a diferença.

A Comissão Europeia acredita que o êxito das renováveis oceânicas pode trazer grandes benefícios para a Europa, assegurar a transição energética sustentável e colocar os Estados-membros numa trajetória realista para a  neutralidade climática até 2050.

Esta aposta pode também dar um contributo importante para a recuperação económica, nacional e europeia, pós-Covid-19, prevendo-se que esta indústria venha a crescer exponencialmente nas próximas décadas.

A este propósito a Comissão Europeia vai organizar, em 2021, uma conferência de alto nível sobre a energia produzida a partir de fontes renováveis oceânicas a fim de promover o intercâmbio de boas práticas e debater desafios comuns. Todas as partes interessadas, desde associações não governamentais ao setor das pescas, estão a ser convidadas a unir esforços para fazer avançar esta estratégia.

Em Portugal, o que está previsto no Plano Nacional Energia e Clima 2030 é que a energia das ondas alcance 70 MW até 2030 e que a eólica offshore possa atingir os 300 MW, no mesmo período. Num horizonte mais largo, o objetivo é assegurar a competitividade em mercado, com correspondente sustentabilidade financeira, da energia eólica offshore de forma a que possamos ter, no mínimo, 1 GW em 2050.

Portugal já iniciou o caminho para o cumprimento destas metas, pela entrada em operação do projeto WindFloat Atlantic. Com 25 MW de capacidade instalada, é composto por três plataformas flutuantes que suportam três turbinas de 8,4 MW de potência nominal. O projeto, localizado junto à costa de Viana de Castelo, constitui já um marco no setor eólico em Portugal e no mundo.

Contudo, a contínua aposta neste setor eólico offshore flutuante (floating offhore wind) e o cumprimento das metas requer um rápido amadurecimento da tecnologia, no que se refere ao ganho de economias de escala na fabricação e instalação em mar aberto dos sistemas de flutuação das turbinas eólicas. É preciso, também, uma abordagem financeira mais vanguardista que promova reduções de custo de capitais próprios e de dívida de forma a torná-la mais competitiva no que se refere aos custos de produção de eletricidade.

A boa notícia é que Portugal dispõe de uma zona piloto para desenvolver alguns projetos, em diferentes fases, sejam estes de demonstração, em fase pré-comercial ou comercial, devidamente articulada com a concessão da Rede Nacional de Transporte, no que concerne às infraestruturas de transporte de eletricidade, incluindo os cabos submarinos que asseguram a ligação entre a geração e a Rede Elétrica de Serviço Público.

De acordo com a Estratégia Nacional para o Mar 2021-2030, que esteve em consulta pública até novembro, Portugal dispõe igualmente de diversos registos de patentes de energias renováveis oceânicas, de forte conhecimento industrial eólico, de um Atlas do Potencial Eólico Offshore, crucial para o planeamento de novas centrais eólicas desta tipologia, e de um sistema científico e tecnológico cada vez mais direcionado para o oceano e para as energias renováveis.

É essencial apostar na investigação, agregar massa crítica e promover sinergias entre empresas, universidades, centros de investigação, administração pública e setor financeiro para otimizar estas novas tecnologias, fazendo uso da qualidade das profissionais nacionais.

Portugal tem boas condições para a realização de testes em vários setores oceânicos e para poder captar investimento direto estrangeiro, nomeadamente em novas soluções de produção e armazenamento de energia renovável, como o hidrogénio verde, a eletrificação indireta renovável dos consumos de energia.

Uma nota importante para o reforço da capacidade das interligações Portugal-Espanha e Ibéria-França. É fundamental pressionar para que as mesmas sejam implementadas até 2030.

O Estado e a administração pública devem ser capazes de promover processos de simplificação e dar espaço à inovação permitindo, por exemplo, a criação de novas fileiras. Portugal não pode ficar à margem da aposta europeia no offshore e tem que preparar-se para embarcar nesta oportunidade que constitui a energia azul, maximizando a sua localização geográfica privilegiada.