Os números relativamente ao combate da pandemia do COVID-19 em Portugal evidenciam falhas no processo de saída do confinamento, que seguiu a quase dois meses de estado de emergência. Este facto, recentemente assumido por especialistas como o coordenador do gabinete de crise da Ordem dos Médicos Dr. Filipe Froes , tem sido facto que se tem materializado adicionalmente por vários observadores internacionais, que apontam Portugal agora como um dos países que ainda terá que tomar mais medidas para controlar a sua situação local.  O fim da perceção de um milagre exemplar Português, reputação adquirida durante o período de confinamento, ficou evidenciado com a exclusão dos nacionais portugueses das primeiras listas de nacionalidades seguras e dispensadas de quarentena de vários países europeus, com destaque para o Reino Unido, que as publicou mais recentemente. Isto afeta evidentemente a forma como Portugal pode ser percecionado na reabertura do espaço Schengen, e consequentemente o relançamento da economia e de um dos seus principais sectores – o turismo – que representa cerca de 19,1% do valor criado em termos de PIB .

Este enquadramento coloca Portugal numa situação complexa. A necessidade de voltar a declarar estado de emergência e aplicar novamente restrições de mobilidade , sobretudo se o surto viral se reacender a nível europeu – uma segunda vaga sanitária entre Setembro e o final do ano – poderá representar uma situação economicamente e socialmente profunda para as empresas e sobretudo para as famílias nos próximos anos. As recentes intervenções do Estado em empresas como a TAP e Efacec estão a criar situações de complexa dificuldade financeira em termos orçamentais, que a 12 meses ficarão a descoberto, ao mesmo tempo que os sectores mais tradicionais vão sofrendo em virtude da deterioração do poder consumo nacional, assim como de uma menos impetuosa atividade em sectores exportadores com algum relevo – como é o caso do cluster do sector automóvel (como é o caso da autoeuropa) – já para não falar da potencial morte estrutural do sector do turismo nacional, que será o mais afetado pelo insucesso de Portugal nessa fase de desconfinamento.

É verdade que poucas áreas de atividade terão capacidade para resistir a uma segunda vaga em Portugal, mas o Turismo internacional depende muito do valor de confiança e será provavelmente um dos que levarão mais tempo a recuperar. Como o distanciamento social provavelmente continuará a ser uma realidade até que uma vacina seja disponibilizada – um processo que ainda pode levar tempo – é pouco provável que o apetite das pessoas para tirar férias no exterior se recupere bastante. E muitos países manterão suas fronteiras fechadas para não-residentes durante os próximos meses, à medida que persistem os receios de contágio. Este é sem dúvida um duro golpe para os países que dependem do turismo para injetar dinheiro em suas economias.

Portugal está por isso, no fio da navalha, e muito dependerá da resposta europeia, sobretudo no que diz respeito ao formato final. A maior parte dos incentivos – um debate que na União Europeia tem sido acesso – deverão resultar em acumulação de divida pública, e que maior se torna quando mais prolongada for a necessidade de renovar os apoios colocados em prática inicialmente, seja para as famílias, ou para o sector empresarial. E consequentemente manter o nível de capacidade de consumo em níveis que possam continuar a dar alguma vida à economia. O pior cenário estará obviamente a uma mutação do vírus para um nível de severidade que exigisse um retrocesso no que diz respeito ao combate da doença e desenvolvimento de tratamentos e vacinas, e consequentemente uma escalada da necessidade de novos estímulos e soluções de suporte às economias – levantando a dúvida sobre o peso que comportaria acomodar essas novas medidas. Uma situação que deixaria um País como o nosso numa situação muito difícil em termos económicos e sobretudo, sociais.