Portugal está atravessar a maior crise económica dos últimos cem anos com elevada destruição da atividade económica e profundas consequências sociais, devido à pandemia da Covid-19. Com o fim das moratórias, o disparo de falências e o aumento do crédito malparado poderemos ter também problemas na banca. E quando a Comissão Europeia (CE) voltar ao rigor do Pacto de Estabilidade e os mercados regressarem à análise da sustentabilidade das dívidas públicas, teremos outro momento de “stresse” para as nossas finanças públicas.

Segundo as projeções da CE, seremos o quinto país da União Europeia (UE) com maior queda do PIB em 2020, e estaremos entre os três (Portugal, Espanha e Itália) com maior queda conjunta no período 2020-2021. A dependência que as três economias têm do turismo ajuda a explicar essa posição relativa. Esta crise vem, pois, afundar mais o pais, depois de uma trajetória de crescimento que, nos últimos dez anos (2010-2019), foi a a terceira mais baixa da UE, logo a seguir à Itália e Grécia.

Depois da quase estagnação na convergência com a UE desde 2000, Portugal divergiu com a crise de 2011 e a recuperação dessa convergência foi muito reduzida até 2019. Com um novo choque negativo em 2020, maior do que o sofrido pelas economias do leste europeu, Portugal acelera a sua descida para a cauda da Europa, acabando de ser ultrapassado pela Polónia em termos de PIB per capita em paridade do poder de compra, e existe uma forte possibilidade que, até 2025, sejamos ultrapassados pela Eslováquia e Roménia, ficando apenas atrás de nós a Bulgária! E se não houver uma alteração significativa das políticas económicas, que levem a uma aceleração do crescimento do PIB, arriscamo-nos, com a Covid, a ter uma queda permanente do PIB entre 12 a 15 mil milhões de euros.

Teremos em 2020 um défice público entre 8 e 10% do PIB e uma queda deste entre 9 e 12%. Até agora, e ainda sem a ajuda da bazuca europeia, o Governo jogou à defesa, certamente consciente da fragilidade das nossas finanças públicas, contrariamente ao que dizia antes da pandemia, e a ajuda pública portuguesa às empresas, trabalhadores e famílias não terá excedido os 5% do PIB, enquanto que na Alemanha e nos Estados Unidos o apoio público terá atingido os 15% do PIB. Estima-se para 2021, para Portugal, com todas as incertezas desta terrível conjuntura, um crescimento do Produto à volta dos 5%, um défice público a rondar os 4,5% do PIB e uma dívida pública a ultrapassar os 130% do PIB.

Resultando numa “pipa de massa” a aplicação da bazuca europeia a Portugal, é óbvio que tal injeção de dinheiro vai ter impactos positivos de curto prazo no Produto através do multiplicador da despesa. Mas estando o pais há cinco anos em completa inação estrutural e se assim continuar, mantendo-se a atual solução política de governo à esquerda, esse impulso keynesiano vai-se esbater a prazo por estrangulamentos do lado da oferta, ligados a uma deficiente afetação de recursos e à ausência dos corretos incentivos económicos para a criação de riqueza.

Por outras palavras, na ausência das reformas estruturais que libertam o potencial produtivo, o PIB potencial, aquilo a que costumo chamar a capacidade produtiva da fábrica Portugal SA, não sairá da sua medíocre trajetória de crescimento e o impulso de curto prazo não terá sustentabilidade. Haverá pois o risco de despejarmos dinheiro sobre a economia não resolvendo os seus problemas estruturais, pelo contrário, até os agravando nos casos em que se gasta mal o dinheiro!