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Portugal paga menos para emitir 850 milhões de euros em dívida a 10 anos

O Tesouro aproveitou um momento favorável da economia e das perspetivas da notação soberana para colocar dívida ‘benchmark’ a um preço mais baixo do que tinha conseguido em julho.
13 Setembro 2017, 10h44

Portugal pagou 2,785% para emitir 850 milhões de euros em Obrigações de Tesouro num leilão de dívida com maturidade em abril de 2017, anunciou o IGCP – Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública.

A taxa de colocação compara com os 3,085%  que o Tesouro pagou para vender 685 milhões de euros num leilão da mesma maturidade realizado em julho. No mercado secundário, a taxa dessa a dívida benchmark negoceia esta quarta-feira nos 2,817%. Essa yield não ultrapassa a fasquia dos 3% não desde 20 de julho e na semana passada, chegou a negociar abaixo de 2,75%, a beneficiar da ideia que o Banco Central Europeu (BCE) não irá parar de comprar dívida tão rapidamente.

“Este financiamento teve os custos mais baixos desde final de 2015, um ano que as taxas das emissões foram muito baixas. Nesse ano houve quatro emissões de dívida a 10 anos, todas com taxas baixas e a taxa conseguida hoje aproxima-se desses níveis”, referiu Filipe Silva, Diretor da Gestão de Ativos do Banco Carregosa.

“Portugal está a beneficiar dos bons dados económicos que tem divulgado, da revisão otimista da perspetiva do rating da dívida por parte da Moody’s”, explicou. A agência de notação subiu no início deste mês o outlook para a dívida soberana para positiva de estável.

O ministro das Finanças, Mário Centeno,  disse que a decisão da Moody’s foi um reconhecimento dos resultados económicos e financeiros alcançados por Portugal. A Fitch já tinha tomado uma decisão semelhante, enquanto a Standard & Poor’s deverá divulgar a avaliação esta sexta-feira.  Essas três agências têm a notação de Portugal em patamar de ‘lixo’. A canadiana DBRS é a única que atribui grau de investimento, uma posição que qualifica o país para o programa de compra de ativos da zona euro.

Filipe Silva, do Banco Carregosa salientou que “uma grande ajuda [à colocação das OT] vem das compras do BCE, mas também beneficia da própria folga financeira no financiamento do Estado que, com operações de troca e emissões tem conseguido alongar a maturidade da dívida portuguesa.”

Clima favorável

Tiago da Costa Cardoso, gestor da corretora XTB salientou o ambiente nos mercados. “O sucesso da emissão deve-se essencialmente ao maior apetite pelo risco que surge neste segundo semestre do ano, com os índices próximo de máximos históricos e sem eventos de risco que possam criar alguma instabilidade nos próximos tempos”.

Adiantou que o ponto negativo acabou por ser o valor colocado, que se situou a meio do intervalo pretendido que era entre 750 milhões e mil milhões de euros, “o que até fez sentido, já que para manter a taxa baixa não se poderia aceitar um numero maior de ofertas”.

O clima favorável vivido por Portugal nos planos macroeconómico e internacional foi também referido por Steven Santos, gestor do BiG – Banco de Investimento Global, que considerou o leilão como positivo, especialmente tendo em conta que “esta manhã houve muita concorrência no mercado primário de dívida pública na Europa, com a Itália, a Alemanha e o Reino Unido a emitir títulos a 10 anos”.

“Por toda a Europa, nota-se que os países estão a aproveitar para emitir dívida antes do Banco Central Europeu reduzir o programa de compra de activos, que poderá ser anunciado já em Outubro. A Áustria, por exemplo, iniciou ontem a colocação de mil milhões de euros em obrigações a 100 anos, tendo recebido já interesse de investidores superior a 6 mil milhões e prevendo-se uma taxa em torno de 2,1%. A Finlândia iniciou ontem a colocação de obrigações a 3 anos”, explicou o gestor.

O BCE já anunciou que o debate sobre o fim dos estímulos à economia da zona euro começa em outubro, levando os mercados a considerar os riscos, principalmente para países como Portugal.

“Ainda assim, uma provável redução do ritmo mensal de compra de activos por parte do BCE não deverá ter um impacto expressivo na compra de títulos portugueses”, sublinhou Steven Santos.

Na semana passada, o BCE manteve o discurso sobre a possibilidade de estender o programa, o que foi recebido positivamente e os juros das dívidas da zona euro começaram a descer.

[Notícia atualizada às 11h24]

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