Ainda não sabemos se o caso português, onde há ainda pouco impacto por parte de movimentos populistas, sejam eles de esquerda ou de direita, é sinal de excepção ou de atraso a entrar nesta realidade europeia. Esta questão tem muito interesse, mas talvez não seja assim tão fácil de explicar. Procurar causas para “não eventos” não é dos caminhos mais fáceis em ciência. Estamos habituados a procurar padrões e não a ausência deles.
Recente literatura em ciência política tem apontado o recrudescimento dos chamados populismos como um desencantamento generalizado dos cidadãos nas instituições políticas (por exemplo Rooddujn, 2018). Por exemplo a falta de confiança nos políticos.
Ora, como bem se sabe pelos inquéritos à opinião pública em Portugal, o que não falta é falta de confiança nos políticos. Por outro lado, a divisão que os movimentos populistas fazem entre a elite (os outros) e a não elite (nós), perdoem-me a “interpretação livre” feita de definição usada por Cas Mudde (2004), também parece fazer algum sentido em Portugal, logo não servirá unicamente de explicação.
Nas conversas que ouvimos nas ruas, nos cafés, nos táxis, nos transportes públicos, e daquilo que lemos nos comentários nas redes sociais ou nos comentários nos jornais online, etc., vemos claramente essa divisão, no entanto os partidos populistas ainda não conseguiram (e espero que assim se mantenha) representação formal em Portugal e para os portugueses.
Recentemente, pude responder a questões sobre este assunto numa conferência para a qual fui convidada na Universidade de Konstanz, na Alemanha. Os organizadores da conferência queriam saber porque é que Portugal ainda é uma excepção. Como não há estudos científicos sobre o assunto, pelo menos que eu tenha conhecimento, lá lhes fui avançando com ideias e intuições que não passam disso mesmo.
Como não adivinho o futuro, restringi-me ao que é mais expectável e razoável: contexto (inclusivamente com um impacto muito pequeno do afluxo de refugiados); uma certa capacidade de absorção das realidades mais extremadas por parte dos partidos tradicionais; uma melhoria das condições económicas gerais do país, sobretudo em relação ao decréscimo da taxa de desemprego; antes, uma grande preocupação em que o país saísse da crise; uma memória colectiva ainda muito vívida do final da era colonial, da situação dos retornados; e, talvez, porque não, uma certa ineficácia (e até pouca competência) por parte daqueles que tentam “vender” ideias mais extremadas e populistas em Portugal.
Seja qual for a razão, ou as razões, convém, para quem é democrata, não se distrair com a nossa excepção. Até ao momento ainda nos podemos, e devemos, congratular, mas num futuro próximo… quem sabe? Como se costuma dizer, “o diabo está nos detalhes” e “sempre à espreita”.
A autora escreve de acordo com a antiga ortografia.