Ultimamente, tenho-me cruzado com diversos comentários a respeito das competências dos alunos portugueses. Um destes dias, cruzei-me com um artigo que alegava que muitos alunos do 10º ano não sabem interpretar o horário do autocarro. Fiquei ainda mais espantada quando li inúmeros comentários a troçar de detentores de licenciatura e mestrado, assumindo que os mesmos teriam capacidades intelectuais mínimas. Ora, num país com todas as fragilidades que são conhecidas e que tem perdido, em muitas áreas, tração e competitividade face a muitos dos pares europeus, uma das poucas de que nos podemos orgulhar é do salto qualitativo e quantitativo na educação da população portuguesa.
Estou saturada de ouvir que “antigamente” é que se aprendia matemática e português. Pois não é facto. Concretamente, Portugal é o país da Europa com o maior fosso intergeracional nos níveis de qualificação da população ativa (29% vs. 7,9% na UE). E, apesar de termos tido francas melhorias na educação, ainda há muito para fazer, ou seja, é preciso continuar a incentivar a educação e formação avançada e não denegrir e menorizar os indivíduos que se esforçam e completam níveis superiores de qualificação.
Infelizmente, ainda em 2021, 6% dos jovens portugueses entre os 18 e 24 anos não completaram o ensino secundário. Ora, o futuro das nações dependerá sempre da qualidade do “software” da população, ou seja, das suas capacidades intelectuais. Se, enquanto povo, não respeitarmos e reconhecermos o valor da educação e formação, dificilmente continuaremos a melhorar nestes indicadores.
Isto vê-se refletido no investimento em formação formal ou informal ao longo da vida. Em 2022, apenas 44,2% da população adulta em Portugal participou numa atividade de educação e formação, o que continua abaixo da média de 46,6% da UE. Num país em que 47,8% dos adultos não terminaram o ensino secundário (mais do dobro da média europeia, 21,6%), é triste observar tanta soberba a respeito das capacidades alheias.
Parece que somos exemplo vivo do Efeito Dunning-Kruger, que é um viés cognitivo pelo qual pessoas com pouca ou nenhuma competência ou conhecimento tendem a sobrestimar as suas capacidades. Aliás, por sabermos tão pouco é que podemos ter uma autoavaliação tão desviada da realidade…
Em conclusão, o que precisamos é de mais pessoas formadas, com níveis de formação superior e com uma qualidade de educação robusta e séria, que entregue as competências necessárias para que o país e os indivíduos possam ser competitivos. O que menos precisamos é de “doutores” de café, que assumem que sabem mais simplesmente porque sabem pouco.
Vamos corrigir as prioridades e reconhecer o que é realmente de valor. Citando Nelson Mandela: “A educação é a arma mais poderosa que podemos usar para mudar o mundo.”