Portugal precisa de mais, mas será que precisa de outro Presidente?

Não devemos confundir a necessidade de mudança do Estado (quase) vazio e podre em que nos tornámos, a necessidade de rotura e também de mudança da classe política vigente (que viveu toda a sua vida directa e/ou indirectamente do/para o Estado) e caciquista (cujo interesse prioritário é o interesse pessoal ou do partido, nunca o do Estado e do Bem Comum), com a necessidade de termos um Presidente da República que, apesar de todos os defeitos que possa ter, representa Portugal de forma digna e com valor.

Apesar de todas as críticas e desilusões sobre a sua actuação, alinhamento com o actual Governo etc…, a verdade é que, apesar de tudo isso, não existe nenhum outro candidato à altura. Com capacidades mínimas. Com tanta crítica e aparente desilusão como é que as alternativas que se apresentam são estas?

Apesar disso, penso que, ao contrário de tantos, quanto mais força o actual Presidente Marcelo Rebelo de Sousa tiver, melhor futuro Presidente teremos. Com mais força, com mais impacto, com mais capacidade, com mais legitimidade e, por isso, também, com mais responsabilidade para contribuir, de facto, para a mudança que tanto precisamos. E que o caso dos Açores, que tantos discordam, já foi e é prova disso.

Não podemos misturar eleições presidências com eleições autárquicas e/ou legislativas. Até porque até ao último debate televisivo entre todos os candidatos, ainda não tínhamos ouvido ideias concretas de nenhum candidato sobre o País que queremos ser na conjuntura endógena e exógena que vivemos. Nem ouvimos qualquer ideia ou intenção sobre que Estratégia Nacional, por exemplo. Nada. Absolutamente nada. Porquê?

Posto isto, não posso deixar de realçar a evolução de Tiago Mayan Gonçalves, a capacidade e resiliência de André Ventura e a revelação que é Vitorino Silva (que na sua autenticidade encontra metáforas que transportam ideais com valor). Mas também importa destacar a desilusão que foi Ana Gomes, a falta de preparação de Marisa Matias e a actuação positiva de João Ferreira (que parece ser tudo menos comunista).

Contudo, votar em qualquer um deles para as eleições presidenciais neste contexto de saúde pública, económico e político, fará sentido? Porquê e para quê? Por irritação? Quereremos “brincar” às eleições numa, teoricamente, possível segunda volta em face do impacto da brutal abstenção esperada e do possível peso do eleitorado de “guerrilha/protesto”?

Fará sentido, em face das alternativas apresentadas, não reforçarmos e responsabilizarmos o actual Presidente para as decisões cruciais e essenciais que teremos de tomar? Fará sentido, nesta hora, e em face das alternativas apresentadas, fragilizarmos o actual e futuro Presidente?

Penso que não.

Devemos exigir e responsabilizar as alternativas existentes, mas também os partidos instalados, para que se preparem devidamente, com novas e melhores ideias, pessoas e rasgo para as eleições autárquicas que se avizinham e que serão cruciais para o futuro e o reequilíbrio do nosso País.

Precisamos de muito mais e de muito melhor.

Escrevo isto, ciente de que hoje vivemos num Estado (quase) vazio e corrupto que tem de ser mudado.

Escrevo isto porque não tenho dúvidas que o futuro de Portugal passará pelas alternativas e por novas pessoas (sãs, livres e competentes) que actuem ao serviço do País, ao invés de se servirem do País, como tem acontecido.

Escrevo isto porque também considero que deputados como Ricardo Baptista Leite, Paulo Neves, André Ventura e João Cotrim Figueiredo têm feito um serviço à Pátria ao agitar águas e contribuir para a mudança necessária.

Por tudo isto, de facto, este é, para mim, o grande desafio: continuar a construir e a promover a real e efectiva mudança imediata. A começar já nas eleições autárquicas e depois nas legislativas. Construir, trazendo para a política uma nova geração, não apenas de idade mas sobretudo em ideias, conteúdo e rasgo! Pois, sem isso, as alternativas que se apresentam serão mais do mesmo. E, desta vez, nesta hora, já não temos mais tempo para falhanços ou novas tentativas.

Precisamos mesmo de mudar. Porque Portugal precisa mesmo de mais, já!

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.