Vivemos um momento histórico e transformador do mundo. São estes momentos que transformam pessoas, comunidades e países. Isso é também positivo, pois representa uma oportunidade, apesar das incógnitas serem muitas. Aqueles que melhor souberem lidar e identificar as oportunidades, melhor ultrapassarão as incógnitas.
Preparar uma empresa ou um país para o caminho seguinte, deve começar hoje e não apenas quando “tudo ficar bem” e a normalidade regressar. A oportunidade é saber que nem tudo vai ficar como era e, por isso, vai sofrer mudanças!
Importa analisar e viver esta crise sanitária, de hoje, como uma ação tática e que deve ser operacionalmente gerida, mas não a fixando como o motor económico da empresa ou do país.
Importa entender que o mundo mudou de uma forma abrupta, social e digitalmente. Tal representa uma oportunidade e não um lamento.
Como país, e antecipando a crise económica profunda que se avizinha, importa reformular a visão de país baseado em turismo, a qual foi uma excelente aposta estratégica, mas que se esgotou. Nos próximos anos, não vale a pena considerar que revitalizaremos essa indústria em três ou quatro anos.
Várias oportunidades estratégicas existem, mas destaco duas áreas fundamentais que deveriam ter prioridade nos próximos 10 anos: o agroalimentar e o digital.
O setor agroalimentar, pela contínua necessidade básica de sobrevivência e de autonomia de um país, deve ser uma prioridade interna. Os últimos dados, conhecidos publicamente, indicam um défice comercial do setor agroalimentar na ordem dos 3,7 mil milhões de euros, valor muito similar ao que se discute para o novo investimento público na TAP.
O Plano Estratégico da PAC 2023-2027, em consulta pública, pode ser uma oportunidade transformadora ou mais uma oportunidade perdida. Colocá-la no centro da modernização e foco do país, com um objetivo muito claro de passarmos de défice a superavit comercial deveria ser prioritário. Este deveria, aliás, ser um objetivo explícito nesse plano.
O investimento no digital e na modernização tecnológica dos vários setores económicos será diferenciador em toda a capacitação e posicionamento do país, quer na sua eficiência, quer na sua eficácia de competitividade nacional.
A médio e longo prazo, a requalificação digital de professores e de metodologias pedagógicas é, por exemplo, uma das áreas fundamentais. É a única forma de garantir a preparação dos alicerces de conhecimento digital das crianças e jovens de hoje que serão daqui a 10 ou 20 anos a principal força ativa do país. Esta é a aposta fundamental para um Portugal mais competitivo e que funcione como um motor de crescimento e de liderança económica e social.
A responsabilização passa por garantir a continuidade de estratégias positivas digitais (que têm vindo a ser adotadas) e reforçar o acompanhamento de indicadores públicos de execução e avaliação. Saber assumir os aspetos menos alcançados, para os melhorar ou repensar, e aspetos positivos, para o potenciar e elevar ainda mais.
Adoramos ver os indicadores do Ronaldo, uma vez que ultrapassam constantemente as várias métricas definidas. Apliquemos essas boas práticas e exigências a cada um de nós, às nossas equipas, aos nossos governos. Dá trabalho? Cria receios? Claro que sim. Mas essa é uma cultura essencial para aproveitarmos a transformação mundial que vivemos e (re)posicionar o país na liderança em vários setores.
Como? Assumindo que não estamos perante um problema, mas simplesmente perante uma oportunidade única de reabilitar um país com muito bom potencial. Apliquemos então essa prática.