Os tempos pandémicos que vivemos são desafiantes. Mas, após este teste à nossa resiliência, vamos entrar num período singular de escolhas, decisões e investimentos. Infelizmente, não vemos certezas na visão para as grandes escolhas do país, no concreto, que assinalem caminhos, explicitem metas e galvanizem os atores económicos e sociais deste País. Como tal, urge insistir. Cá estamos a dar o nosso contributo.
Este é o momento para uma visão estratégica do Portugal que queremos em 2030, quando entramos naquela que será a mais disruptiva década da história da humanidade. Uma década em que, na Europa como no Mundo, se fará a recuperação, no curto-prazo, com as medidas de transição que salvaguardarem o tecido social. Mas que se farão apostas ousadas, no médio-prazo, aproveitando as inovações tecnológicas já emergentes.
Esta agenda, dita top-down, com o envolvimento de stakeholders relevantes (Governo, Administração Pública, Empresas, Universidades, Sector Social) é essencial. Depois, haverá que agilizar incentivos e financiamentos de modo que não fiquem aprisionados na burocracia pública e tenham o impacto célere que se deseja.
Precisamos de pensar rápido, planear de modo ágil e executar de forma rigorosa e implacável. Uma pequena súmula do que, na nossa ótica, está a ser menosprezado nos planos iniciais e deverá de ser acelerado:
1) Reinventar a Educação e a Requalificação – um imperativo nacional, com recursos, iniciativas e elevada escala, com o objetivo de mudar o talento estrutural do país até 2030; áreas como o digital, as novas soft-skills e os modelos flexíveis e colaborativos de trabalho devem ser prioritários.
2) Reabilitar a relação público – privada, através da conceção de uma nova geração de acordos com propósito e que salvaguarde a inovação – em áreas como saúde, infra-estruturas, inovação social e outras (criaram-se preconceitos generalizados com base em situações negativas pontuais); tal é essencial para acelerar a coesão social e competitividade do país.
3) Evoluir de uma agenda “Digital” isolada para o “Digital” em todas as agendas; da mesma forma que a ciência é relevante em todas as áreas, também deverá ser a transformação digital; investimentos em infraestruturas críticas, capacitação, suporte setorial da economia (Ex: Logística, Energia), valorização das cidades (sustainable cities) e da habitação (smart homes), reforma dos serviços públicos, devem todos contribuir e obter progresso digital.
4) Incentivar a especialização competitiva, para aumentar as exportações, com base em domínios de potencial estratégico para o desenvolvimento da economia, orientados para o mundo – ex.: Turismo, Economia do mar, Saúde e Bem-Estar, Ensino Superior, Tecnologias (centros e excelência de inovação), Indústrias Criativas;
5) Acelerar a agenda de sustentabilidade ambiental com metas mais ambiciosas de descarbonização da sociedade, com recurso a soluções de eletricidade e hidrogénio;
6) Investimento racional em infraestruturas a) portuárias b) aeroportuárias e c) ferroviárias, hoje deficitárias e limitativas de um crescimento sustentável do País, que preparem Portugal para ser um hub global em 2030.
7) Uma aposta-chave: tornar Portugal o melhor país do mundo para se viver e trabalhar até 2030 (aproveitando o posicionamento ímpar da nossa geografia); adicionalmente, reforçar Portugal como um hub de atracção de talento empreendedor e inovador, que nos traga o capital humano necessário para alavancar todas estas ambições.
Depois de “o que fazer”, abordemos o “como fazer”. A solução deverá passar, pois, pela focalização dos fundos europeus, ao invés de disseminá-los de forma pouco produtiva. Governo e Administração Pública devem gerir de forma colaborativa, combatendo a actual cultura de “silos” e fronteiras estanques de ministérios, agências, institutos ou programas operacionais, e também a sua relutância em estabelecer parcerias com o setor empresarial. Devem focar-se em resultados e impactos.
O estabelecimento sequencial de objetivos/métricas/metas será a garantia que 1) o Governo monitoriza em tempo real o desempenho destas linhas estratégicas e 2) existirá um saudável e transversal escrutínio público sobre a concretização destes investimentos.
Recuperar é essencial, mas é pouco. Há que transformar Portugal. É uma oportunidade única que as actuais gerações têm a obrigação de aproveitar!
Os autores escrevem de acordo com a antiga ortografia.