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Portugal sem plano B

Apenas manter as aparências e assumir que “as dívidas são para gerir”, não só não vai retirar-nos da cauda da Europa como irá restringir a nossa liberdade.
16 Outubro 2020, 08h07

Na apresentação da proposta de Orçamento do Estado, o ministro das Finanças foi insistindo na ideia: Portugal tem de continuar a passar uma imagem de responsabilidade e credibilidade para continuar a financiar-se a juros baixos. João Leão foi ainda mais longe e congratulou-se pelo facto de Portugal poder poupar em juros pagos, apesar do aumento da dívida. Não referiu, no entanto, a importância fulcral do contexto de política monetária ultra expansionista por parte do Banco Central Europeu (BCE).

O OE 2021, a par destas declarações, clarifica a estratégia para os próximos anos: aumentar o peso do Estado, persistindo numa trajetória de endividamento alto, mas sem aumentar o PIB potencial. Aprofundar-se-á a dependência das decisões e apreciações de Frankfurt (BCE) e de Bruxelas (Comissão Europeia).

Nesta fase, os ventos sopram de feição à estratégia, dado que o choque económico que se abateu sobre a UE é simétrico e as autoridades estão muito complacentes em termos fiscais e monetários. Mas virá o dia em que estes paraquedas pan-europeus deixarão de existir e, quando os países estiverem prontos a arrancar, continuaremos com uma máquina obsoleta e com cada vez mais lastro.

O caminho para a independência de um país passa por um rácio de dívida/PIB a descer. Tal só pode acontecer liberalizando a economia, tender para a redução de despesa e dando condições ao crescimento do produto, que só os privados poderão assegurar. Apenas manter as aparências e assumir que “as dívidas são para gerir”, não só não vai retirar-nos da cauda da Europa como irá restringir a nossa liberdade. Refém dos juros baixos, Portugal não tem plano B.

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