Há uma longa relação entre esta tecnológica portuguesa e o mundo do espaço. Em 1998, a Critical Software já trabalhava em projetos da NASA. Desde então, já participou em mais de 25 missões espaciais, incluindo a exploração de Marte pelo Mars Rover em 2016.
Entre os seus clientes espaciais, encontram-se o gigante Airbus Defence & Space, a Agência Espacial Europeia (ESA), a NASA ou os franco-italianos da Thales Alenia.
Agora, a aposta é conquistar (ainda mais) o espaço a partir dos EUA. A Critical Software investiu numa companhia do setor, a Turion Space, e pretende também ganhar mais clientes nos próximos anos. O objetivo é gerar três milhões de dólares de receitas neste setor nos EUA no espaço de três anos.
“Temos a maior parte do negócio concentrado na Europa e queremos diversificar para sermos mais capazes de suportar embates. Tendo maior diversidade, é mais fácil. Queremos manter-nos em geografias de alto valor acrescentado, mas com maior resiliência,” começou por dizer ao JE João Brito, diretor da divisão de Smart & Reliable Systems da Critical Software, sediada em Coimbra.
A companhia abriu recentemente um escritório em Boston que tem estado focada nos aparelhos médicos, mas agora o objetivo é “impulsionar o mercado de espaço e de aeronáutica.”
O primeiro passo foi a entrada no capital da Turion Space, uma startup do setor do new space: empresas privadas que abriram o espaço a novas oportunidades, caminho feito pela pioneira SpaceX de Elon Musk. “Queremos posicionar-nos como referência no desenvolvimento de missões em órbita baixa.”
A empresa não divulgou o valor do investimento nem a participação que passou a deter na empresa sediada em Irvine, na Califórnia.
Conforme explicou, a Turion usa satélites de média dimensão, onde são colocados instrumentos dos clientes para “qualquer uso,” incluindo “imagens para a terra do espaço, serviço de satélites em órbitas ou a remoção de detritos.”
A Turion já lançou um satélite e espera lançar em “breve” o segundo: o DROID.001 foi lançado em junho de 2023, o DROID.002 está previsto para março de 2025. “Fazemos uma parte do satélite. A plataforma base está pronta, não é costumizável, os instrumentos colocam-se dentro dessa base.”
Pela sua parte, a Critical Software é a responsável por desenvolver o software que permite controlar e comunicar com o satélite a partir da Terra, a plataforma Karvel, que pode ser adaptada para diferentes finalidades, consoante as necessidades das missões. “Desenvolvemos aplicações de software de alto nível num sistema operativo com esteróides. O ganho está não só nos custos, mas no tempo. Desenvolver de raiz custa mais dinheiro.” A plataforma é compatível com diferentes tipos de hardware, quer seja da NASA, quer seja da Agência Espacial Europeia, acrescentou.
“Por um lado, existe um ganho de nos posicionarmos dentro da Turion nesta área. Por outro lado, existe um ganho de estarmos no lado europeu a suportar a expansão deles para o mercado europeu. Os nossos investimentos nunca são feitos numa ótica meramente financeira. Não queremos ser vistos como a empresa que está só a fornecer dinheiro,” explicou João Brito.
A companhia conta já com três clientes europeus da Karvel e quer agora conquistar terreno nos EUA, além dos avanços na Turion. “Esperamos fazer crescer o negócio para 3 milhões, apenas no mercado norte-americano em 3 anos. Queremos vender a nossa plataforma para vários clientes,” afirmou.
“O nosso software permite a implementação de tudo o que são telecomandos e telemetria, e o controlo a partir de terra. A comunicação entre Terra e o satélite é feita pelos dois grandes protocolos que existem: um americano e o outro europeu. O nosso mercado-alvo são os satélites de média dimensão. Os grandes operadores de satélites têm a sua própria plataforma, mas isto funciona para operadores intermédios, para quem quer ganhar tempo no desenvolvimento. Vai ser essencial para o seu modelo de negócio,” segundo o responsável.
A ascensão do setor do new space representa o “quebrar do grande modelo institucional,” isto é, grandes missões realizadas pelas agências públicas. “Agora há muitas empresas, muitas startups, pois o custo de lançamento foi reduzido dramaticamente. A SpaceX foi chave e será chave.”
Sobre o ecossistema nacional do espaço, João Brito aponta que está “francamente em crescimento e bastante menos dependente da Agência Espacial Europeia.”
Já no setor da aeronáutica nos EUA, a companhia diz que quer “expandir” a sua relação com alguns atuais clientes, que são “grandes fabricantes de equipamentos ou fornecedores diretos,” através do desenvolvimento de software de sistemas de aeronáutica. “Estamos habituados a trabalhar no mais alto nível.”
Questionado pela chegada de Donald Trump ao poder no momento em que aposta no país, o responsável disse que o novo presidente norte-americano “não coloca em causa a estratégia da empresa. Há um receio do desconhecido. O mercado é capaz de se alterar, não sabemos, mas a Europa também tem desafios. A ida para os EUA foi para criar mais resiliência.”
“Há problemas que surgem, mas também há oportunidades que surgem. Vamos navegar nestas águas. Ser flexíveis e reagir rapidamente,” concluiu João Brito.
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