Nas discussões estratégicas com empresas tecnológicas tenho demasiadas vezes a sensação de que há muita gente interessada em justificar o insucesso ou adiar a resolução de assuntos urgentes com o argumento da construção de um hipotético futuro que, por diferentes motivos, nunca acontece.

O que é certo é que, sem garantir a sustentabilidade do horizonte mais imediato, esse futuro tão promissor, baseado às vezes em ideias brilhantes e prometido sempre nos planos de negócio, nunca deverá chegar.

Comparo essas situações, embora a uma escala muito inferior, à forma de trabalhar de Elon Musk, em que o enorme fluxo de inovações parece às vezes um argumento para atrasar a execução bem-sucedida de cada uma das suas ideias. Quando o orçamento disponível tem vários dígitos menos que os de Musk, a importância do presente e do futuro imediato é ainda muito superior.

No mundo digital, o que é difícil não é predizer um futuro promissor, mas, como ilustra o caso de Elon Musk, gerir a mudança para o fazer acontecer a partir de um presente que é sempre desafiante.

O futuro serve para justificar tudo porque ninguém sabe como será exatamente. Nas etapas mais estáveis das últimas décadas, chegávamos ao futuro sem grandes sobressaltos porque o construíamos de uma forma progressiva e previsível, a partir da extrapolação de um presente que era um trailer do futuro.

Hoje, o futuro nasce velho porque as coisas acontecem tão rápido que, quando as ideias se materializam em produtos e serviços, outras mais apaixonantes ocuparam já o seu lugar. Os óculos do presente já nboa ferramenta.te jecere Elon Musk,s gerir a mudanças acontecem tão são uma boa ferramenta para antever o futuro e, por isso, sentimos que, como não o podemos predizer, o melhor será inventá-lo.

Essa reinvenção contínua, enquadrada num ritmo frenético de mudança social e tecnológica, leva-nos a viver numa “betalândia” permanente, em que tudo é provisório e circunstancial. Mas isso não justifica a falta de rigor na gestão corrente porque, sem presente, não há futuro. A fluidez das empresas permite-lhes discorrer por muitos caminhos alternativos que, sem o cuidado de as canalizar por caminhos financeiramente impermeabilizados, correm o risco de acabar no esgoto.

O que nos distingue do resto dos animais é a nossa capacidade de imaginar o futuro, mas acho que o futuro está hoje sobrevalorizado. Qualquer reflexão sobre o futuro mistura interesses pessoais com a projeçao de questões ideológicas, políticas, emocionais e vitais. Em tempos de campanhas eleitorais, as promessas de um futuro muito melhor são sempre protagonistas perante a incapacidade de gerir adequadamente o presente.

No extremo oposto, em países como Angola, em que as pessoas viveram com a incerteza de sobreviver à guerra diariamente durante décadas, a sensação é totalmente a oposta: vamos resolver o presente porque, se calhar, amanhã já não temos futuro.

A virtude está, como sempre, entre ambos os extremos e chama-se um presente otimista e bem gerido. Atuando dessa forma, seremos bem-sucedidos no futuro ou ainda mais cedo.