No dia 31 de outubro celebra-se o Dia Mundial da Poupança – uma data que, mais do que um simples marco no calendário, é um alerta para a realidade que vivemos. Num mundo de incertezas económicas, inflação crescente e consumo acelerado, poupar deixou de ser apenas uma virtude: tornou-se uma necessidade urgente para garantir segurança e estabilidade no futuro.

No que diz respeito a este tema, antes de mais, faz sentido desmistificar que o conceito de taxa de poupança se refere à percentagem do rendimento disponível que as famílias decidem não gastar, guardando para o seu futuro. Em 2020, durante a pandemia, Portugal atingiu um máximo histórico na taxa de poupança, devido à incerteza económica e à redução do consumo forçado; em 2024, a taxa subiu para 12,2%, no último trimestre, impulsionada por um aumento do rendimento disponível e menor crescimento do consumo; já o primeiro trimestre de 2025 registou diminuição expressiva na taxa de poupança das famílias (três pontos percentuais), colocando Portugal entre os países da UE com maior recuo.

Este comportamento reflete uma forte ligação entre contexto económico e comportamento financeiro das famílias: em tempos de crise ou instabilidade, a poupança tende a aumentar; em períodos de recuperação ou inflação elevada, pode diminuir. Sabendo à partida que assim é, é essencial defender a necessidade de mudança de paradigma. Poupar deverá tornar-se um “temos de” e não um “devíamos de”, seja em momentos mais instáveis, como em momentos mais desafogados. A história tem-nos mostrado que somos vulneráveis e que a poupança pode, efetivamente, ser uma forma de contornar certos momentos e ser o nosso maior apoio.

Vejamos, os dados mais recentes revelam que os portugueses vão conquistando a probabilidade de viverem cada vez mais tempo. Em 2023, a esperança de vida à nascença rondava os 82 anos (cerca de 85 para mulheres e 79 para homens); em 2070, espera-se que os homens vivam em média até aos 86 anos e as mulheres até aos 89. Este aumento é resultado de várias melhorias, nomeadamente nos cuidados de saúde, nutrição e educação.

A ligação entre estes dois fatores é subtil, sim, mas reforça algo muito importante: quantos mais anos de vida maior a necessidade de poupança. Com o envelhecimento da população, é preciso garantir rendimentos para a reforma e cuidados de saúde prolongados. Porque não vamos só viver mais, queremos viver com mais qualidade.

É, por isso, que vale a pena começar a planear este momento desde cedo, começando, por exemplo, por promover uma mudança nos hábitos de consumo das famílias. Poupar mais cedo é sinónimo de uma velhice mais desafogada, mesmo tendo em conta os gastos inerentes a esta fase da vida.

Esta tendência coloca, ainda, desafios ao financiamento da segurança social, levando à pressão dos sistemas de pensões. Prevê-se que, em 2050, o pagamento de pensões consuma mais de 40% da receita fiscal e contributiva do país. Mesmo assim, é de frisar que as novas pensões de reforma serão inferiores a 40% do último salário. Um cenário que levanta preocupações sobre a sustentabilidade do sistema público e sublinha a importância de cada um assumir um papel ativo no planeamento da sua reforma, começando desde já a poupar.

Sabemos que, para muitas famílias, equilibrar o orçamento diário já é um exercício de malabarismo, onde cada euro conta. Ainda assim, é precisamente nos momentos de maior aperto que o hábito de poupar pode fazer a diferença – não apenas para enfrentar imprevistos, mas para construir, passo a passo, a segurança financeira que todos merecemos.