Já se nota a ansiedade nos decisores, na imprensa e, por consequência, na população que a “quarta vaga” de Covid-19 está a provocar. Estamos a observar este fenómeno mais cedo do que no resto da Europa já que Portugal foi um dos primeiros países a registar um aumento considerável de casos relacionados com a variante Delta.

Como a situação já não é nova, seria de particular importância que, desta vez, os processos de decisão já aproveitassem a experiência passada, evitassem discricionariedades, pensassem na sociedade como um todo e que a comunicação fosse muito clara, sem pensar nas autárquicas que aí vêm.

Há muitos meses que se percebeu a inevitabilidade de passar a viver com o coronavírus, reconhecendo-o como um vírus endémico. Isso implica criar uma atitude de normalização e de aceitação. Claro que se deve dotar o país dos recursos para atender a picos de procura por cuidados intensivos, os mesmos que ano após ano foram negligenciados nas gripes sazonais, mas implica sobretudo ter dois objetivos muito claros: vacinar as pessoas e normalizar as atividades.

É isso que, segundo os relatos mais recentes, Singapura se prepara para fazer: aceitar que a Covid vai ficar entre nós, tratá-la como outra qualquer doença endémica, ao mesmo tempo que insistirá na vacinação sistemática. É um plano objetivo e fácil de entender. E não se pense que é um luxo a que aquele país se pode dar por ter taxas de vacinação muito altas. A 28 de junho, Singapura tinha 36.7% da população vacinada, o que compara com 32.1% em Portugal e 48.9% no Reino Unido (Fonte: Our World In Data)

Sejamos claros: cada morte por Covid-19 é uma desgraça e é uma “lotaria” que pode sair a qualquer um de nós. Mas não aceitar a doença como endémica e continuar na estratégia de “abre-fecha”, comporta sérios riscos para a nossa civilização, cultura e democracias que não estão a ser tidos em conta.