Continuam as más notícias no mundo e aquela que todos queriam evitar está na ordem do dia. Putin, o líder da Rússia, anunciou uma mobilização parcial da população para a guerra na Ucrânia. Para a generalidade dos analistas ocidentais é o escalar da guerra. E, algo que se esperava entrar numa fase de negociações afinal, entra numa nova fase em termos de conflito. Pensamos nos sacrifícios na Ucrânia e também na Rússia mas a generalidade dos países está a sofrer com as crises provocadas pela guerra, quer seja a nível de preços da energia, quer nos preços alimentares, quer na subida dos juros para controlar a inflação galopante, quer na redução da atividade económica. Pensávamos que 70 anos depois do final do maior conflito de sempre, a “II Guerra Mundial”, e mais de 30 anos depois da queda do “muro de Berlim” e o fim formal da “guerra fria”, este tipo de acontecimento não fosse possível. Mas, contrariamente à generalidade das expetativas passaram sete meses sobre o início da invasão da Ucrânia, há dezenas de milhar de mortos e milhões de deslocados.

Entre nós, e adensado pela guerra temos uma inflação galopante. E, embora a subida de preços já se viesse a manifestar há meses a escalada aconteceu depois da crise energética, da crise de abastecimentos e do fornecimento de matérias-primas alimentares. Hoje discute-se na Europa, incluindo Portugal, a forma de mitigar a subida do custo da energia e o drama de um inverno com escassez nos fornecimentos. Entre nós, e ao contrário de outros grandes conflitos, deixámos de estar longe do centro dos acontecimentos. Não passamos pelos “pingos da chuva” porque temos um clima mais ameno já que necessitamos de energia para a população e para a indústria. Discutimos modelos de ajuda às famílias e às empresas.

Na semana passada falámos no meio embuste que é as ajudas às famílias e aos reformados e esta semana o tema centra-se nas empresas e nas pseudo ajudas a nível empresarial que consistem sobretudo em empréstimos garantidos pelo Estado. E os gestores têm de pensar se querem mais dívida dentro das empresas quando se espera uma redução da atividade económica no próximo ano. O Governo está a algumas semanas da entrega da proposta do OE para 2023 e não sabemos as linhas mestras. O Presidente da República já veio alertar que é melhor dizer a verdade de uma vez do que ir mentido e corrigindo ao longo do ano. Se o crescimento de 6% esperado para este ano vai cair para 1% esperado para o próximo ano, é melhor sabê-lo já. Aliás, a seguradora de crédito Allianz Trade, citada pelo O Novo reviu em baixa o crescimento da economia portuguesa para 2023 que passa a negativo e a contrair 0,3%. Ao mesmo tempo a inflação mantém-se próxima dos dois dígitos mas perante a natural subida dos juros é possível que caia abruptamente mas, ainda assim, ficará acima do nível de referência que o Banco Central Europeu quer.

A subida dos juros tem um impacto que já se sente no crédito à habitação a taxa variável. Para um crédito médio a subida de algumas dezenas de euros mensais é significativo. Enquanto isso esperam-se definições no OE 2023 sobre ajudas. Para os inquilinos já sabemos mas para senhorios e proprietários de casa própria e permanente ainda não. O executivo está num turbilhão e esta não é uma altura fácil. Tem “almofadas” permitidas pelo IVA mas continua atrás da taxação dos lucros inesperados, enquanto pressiona operadores de gás a libertar os clientes do mercado liberalizado para o regulado. Vivemos a “tempestade perfeita” sem notícias positivas.