Enterrar os mortos, cuidar dos vivos. Perceber o que aconteceu, para que não mais se repita, e apurar responsabilidades. Reconstruir. Isto é o que deve suceder quando somos atingidos por uma tragédia como a que aconteceu em Lisboa.
Cada passo tem o seu tempo, que deve ser seguido sem atropelos, empurrões ou aproveitamentos políticos. A Carris é uma empresa municipal, vêm aí autárquicas, daqui a pouco mais de dois meses, e é uma tentação aparecer na fotografia. Que seja com a consciência de que serão avaliados também por isso.
Sabemos quase nada do que aconteceu e que está a ser averiguado. Foram pedidas auditorias, internas e externas. As autoridades judiciais também estão a investigar o que aconteceu.
Mas sabemos que a manutenção do Elevador da Glória foi posta em causa e, também, que o último concurso aberto pela empresa para os três sistemas que explora na capital ficou deserto porque o preço era demasiado baixo.
Saberemos como foi possível um acidente horas depois de uma verificação. As análises di-lo-ão.
Agora, podemos aproveitar a oportunidade para questionar a bitola pública, desde há muito tempo, de espremer o fornecedor, alinhar por baixo, ter o preço como fator determinante para a escolha do fornecimento. A qualidade é secundária, que pode pesar na folha de cálculo. É assim que o Estado, em todas as suas dimensões, acaba por contratar serviços a preços impossíveis de praticar dentro das regras que o próprio Estado estipula. Torna-se um Estado poupado, mas fora da lei. Falamos de manutenção, podia ser segurança, fornecimento de alimentação, limpeza.
O preço desce de forma inversamente proporcional ao risco. Menor preço, maior risco. Risco máximo, quando se trata de vidas.