Neste artigo analiso a evolução do índice trimestral de preços da habitação do Eurostat. Há boas e más notícias a este respeito.

Começando pelas más notícias, o índice de preços da habitação em Portugal atingiu 211,19 pontos no final do 4º trimestre de 2023, em comparação com uma base de 100 em 2015, o que representa um aumento de cerca de 111% desde então. Este crescimento anual médio de quase 10% é o 4º maior na União Europeia (UE-27) desde 2015, ficando atrás apenas da Hungria (índice de 266,87), Lituânia (220,40) e Chéquia (212,30), enquanto a subida média na UE-27 foi de apenas 48,36% no mesmo período (cerca de 5% ao ano), um pouco menos da metade da observada em Portugal.

Passando para a evolução mais recente, a taxa de variação homóloga no final do 4º trimestre mostrou um aumento dos preços das casas em Portugal de 7,8%, o 5º maior na UE-27 – onde a variação média foi de apenas 0,2% –, ficando apenas atrás dos valores da Polónia (13,0%), Bulgária (10,1%), Croácia (9,5%) e Lituânia (8,3%).

A boa notícia é que já se observa um significativo abrandamento dos preços da habitação em Portugal, em comparação com o pico de aumento homólogo de 13,2% no 2º trimestre de 2022. Este abrandamento reflete as taxas de juro historicamente elevadas, após várias subidas das taxas de referência do BCE, que começaram recentemente a descer, num movimento que se espera gradual.

Quanto à variação trimestral (face ao final do 3º trimestre de 2023), o aumento de 1,3% em Portugal foi um dos mais baixos desde 2015 e apenas o 12º na UE-27 (onde a variação foi de -0,3%). O abrandamento é positivo para quem queira comprar casa ou arrendar, pois a evolução das rendas tende a seguir a das habitações.

Contudo, com a reversão da política monetária pelo BCE, existe o risco de retorno da aceleração dos preços nos países ainda sob pressão assinalável no mercado imobiliário, como é o caso de Portugal.

Para além da variação conjuntural dos preços, resultante das dinâmicas de oferta e procura no mercado imobiliário, é crucial enfrentar a tendência estrutural de aumento dos preços, que supera o crescimento dos rendimentos, exigindo medidas abrangentes tanto no mercado imobiliário como de forma mais transversal para melhorar o acesso à habitação. O novo governo já implementou medidas estruturais que seguem na direção certa, mas será seguramente necessário adotar políticas adicionais, inovadoras e abrangentes, para alcançar resultados mais eficazes e rápidos em termos de acessibilidade.