A opção de incentivar o desempenho ético dos trabalhadores através da premiação ou punição parece ser um método cada vez mais adotado pelas empresas, inclusive em Portugal.

No estudo europeu “Ethics at Work”, que incluiu, em 2018, pela primeira vez, o nosso país, foi perguntado aos 750 elementos da amostra, representativos da população ativa de cada país, se lhes eram oferecidos incentivos para os encorajar a cumprir com as normas éticas da empresa. E verificou-se que 44% dos trabalhadores portugueses afirmaram que sim e que o incentivo “Faz parte da avaliação/análise anual” refletiu-se maioritariamente na atribuição de um bónus (41%). Este resultado está alinhado com a média dos trabalhadores europeus que é de 45%.

Um exemplo disso é o caso da Novartis que, desde 2018, e numa tentativa de reconstruir a reputação, vincula os bónus ao desempenho ético dos colaboradores. Esta decisão faz parte do fortalecimento da cultura ética da farmacêutica suíça, uma prioridade após escândalos de suborno na Coreia do Sul, China e Estados Unidos. Os colaboradores recebem, agora, uma pontuação de 1, 2 ou 3 relativamente ao seu comportamento ético, em que o 2, se destina a quem corresponde às expectativas e o 3 aos que sejam considerados um “modelo de comportamento”, tornando-os, assim, elegíveis para um bónus de até 35% de sua remuneração total.

Premiar e castigar o desempenho ético é um tema polémico: há quem defenda que premiar desvirtua de alguma forma a bondade dos comportamentos, mas, por outro lado, pode ser um aspeto importante para demonstrar a relevância da ética para a organização. Adicionalmente, o facto de se premiar e penalizar o desempenho ético pode estimular a discussão sobre o tema, o que é não só salutar, mas até crucial para a sensibilização interna.

A questão poderá estar no “como”, até porque nem todos os incentivos se têm de refletir em dinheiro; poderá ser, por exemplo, um louvor público, uma medida relativamente pouco adotada em Portugal, uma vez que apenas 19% dos inquiridos a referem, contra os 25% europeus.

Há vários aspetos a merecer reflexão: que comportamentos devem ser premiados? Que prémios? Que castigos? Devem os prémios ser divulgados a priori? Pode ser um prémio monetário? Deve ser incentivada a delação para questões como corrupção com os mesmos meios que começam a ser usados em termos societais? Como lidar com um bom resultado para a organização que foi conseguido de forma não ética? Deve este tema ser discutido com os colaboradores?

Para tentar identificar boas práticas nesta matéria a Católica Porto Business School, lançou um inquérito on line. Esta iniciativa começou com a listagem de práticas junto das empresas que compõem o Fórum de Ética, mas está agora aberta a todos os que queiram participar e partilhar a sua experiência e conhecimento.

Ainda sobre premiação, mas em sentido contrário, é importante referir que o estudo deixa também visível o facto de continuar a haver muita premiação de resultados independentemente da forma como são conseguidos: cerca de um em cada três respondentes (portugueses e europeus) afirmam que “os seus diretores recompensam os trabalhadores que apresentam bons resultados, mesmos se estes adotam práticas eticamente questionáveis”.

Esta é uma situação que é importante mudar.