Em tempos ouvi de um empregador, a propósito da possibilidade de elogiar e reconhecer um bom trabalho dos seus empregados, que isso não lhe fazia qualquer sentido. Segundo ele, baseado na sua experiência pessoal, não se podia estar a “mimar” as pessoas por cumprirem o seu dever. Era só o que faltava. Pagava-lhes, logo elas tinham que cumprir e da melhor forma possível, pelo que não fazia sentido estar a elogiar quem apenas estava a fazer a sua obrigação.
Os funcionários queixavam-se que fazer bem ou mal era quase a mesma coisa, desde que o trabalho aparecesse feito. Diziam frequentemente que iam trabalhar porque precisavam do dinheiro e, não tendo coisa melhor, por ali iam ficando, mas que era por vezes um sacrifício ir trabalhar. Por outro lado, também há quem considere que não se pode reconhecer as organizações que têm boas práticas de gestão porque não há organizações que cumpram com todas as boas práticas e normas aplicáveis.
Opiniões e experiências pessoais à parte, interessa-me o que diz a evidência científica.
E o reconhecimento importa. Traz mais bem-estar e melhor desempenho e produtividade.
Vivemos num país que tem tido dificuldade em reconhecer, premiar e elogiar. Ou são heróis, bestiais e santos ou então são vilões, bestas e o diabo. Ou são bons ou são maus. Não se elogie as crianças que elas ainda se estragam. Não se premeie porque sabe-se lá se o premiado não tem alguma falha que depois ainda vai aparecer por aí a assombrar-nos o prémio.
Não há pessoas perfeitas. Não há organizações perfeitas. Todos erramos. Mas estamos a trabalhar no sentido de melhorarmos as nossas práticas? Se sim, isso deve ser valorizado e reconhecido como forma de disseminar as boas práticas através do exemplo e de estimular o investimento contínuo nas mesmas.
As organizações que gerem estrategicamente os seus riscos psicossociais (que todas têm), avaliando e planeando acções de prevenção e que proactivamente, com base na evidência científica, promovem o bem-estar e a saúde mental dos trabalhadores merecem ser reconhecidas. Algumas por especial mérito merecerão ser distinguidas e até premiadas.
Quer isso dizer que fazem tudo bem? Que são irrepreensíveis? Que não podem ter dificuldades na conciliação da vida pessoal com o trabalho? Que não podem ter algumas lideranças com piores práticas? Que não têm cargas de trabalho que por vezes podem ser acima do desejado? Não. Isso é uma utopia que podemos perseguir, não é uma realidade palpável. Mas significa que estão permanentemente a tentar que seja melhor, a corrigir o que está menos bem e a prevenir.
Há organizações muito competitivas e que se movem em contextos de alto desempenho. Estão por isso habituadas a ganhar hoje e perder amanhã este ou aquele negócio, na certeza de que continuarão a desenvolver a sua actividade para serem melhores e conseguirem outros resultados. As organizações, queiram ou não, de forma explícita e deliberada ou não, concorrem por ter ambientes de trabalho com mais bem-estar e onde as pessoas que nelas trabalham consigam ser reconhecidas, ter autonomia no seu trabalho e uma rede social de suporte, condições que por sua vez ajudam as organizações a atingirem os seus objectivos.
Obter um selo de local de trabalho saudável é obter um reconhecimento de boas práticas. Não é a certificação de que tudo está bem. Mas seja um selo, ou seja mesmo até o primeiro lugar no Healthy Workplaces Award, é uma distinção para o mercado e para a sociedade em geral que estas organizações que se candidataram e obtiveram estes selos estão no caminho que ciência demonstra ser o de mais bem-estar e mais produtividade.
Lanço, por isso, o desafio: que as organizações mais competitivas e genuinamente mais activas na procura do bem-estar dos seus trabalhadores (e que por isso investiram em funções ligadas ao bem-estar, por vezes até com a felicidade), candidatem-se, sem custos, ao Healthy Workplaces Award 2022.
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.