Quem olhar para a evolução dos mercados financeiros no fim do ano, irá verificar valorizações apenas vistas em anos de forte expansão. Com efeito, os índices americanos registam subidas expressivas, a começar pelo índice Nasdaq, com uma valorização superior a 40%, ou o S&P 500 que acumula um ganho de 14% em dólares. Até os mercados europeus, que chegaram a registar quedas superiores a 30%, apresentam uma desvalorização ténue de 6%, não reflectindo de forma alguma a forte recessão económica, nem a recuperação lenta da economia nos próximos anos.

A principal razão que irá continuar a suportar os mercados em 2021 é a decisão dos bancos centrais de intervirem de forma coordenada e apoiarem a política fiscal expansionista dos governos, sem limites.

Apesar de alguns sectores estarem a registar fortes valorizações, com muita especulação acerca da formação de bolhas, o facto é que estamos a assistir ao funcionamento da pedra basilar da economia – o efeito procura e oferta.

A oferta nos mercados de capitais tem sido escassa, com bastantes empresas a saírem de bolsa ou a recomprarem as suas ações, ao mesmo tempo que a infecção de liquidez, seja por via de cheques à população ou simplesmente o financiamento dos défices do Estado, contribuiu para o aumento da procura.

Assim, enquanto esta pressão na procura se mantiver e não existir oferta suficiente é natural que os mercados  financeiros, de uma forma geral, continuem a subir.

Existe outro factor que tem a ver com a selecção natural das empresas. Os índices não são estáticos e as revisões trimestrais ou semestrais tendem a seleccionar as melhores empresas em detrimento das piores. Desta forma, os índices caminham para o infinito, uma vez que poucas são as empresas que vão à falência e ainda são constituintes de índices, com excepção de casos de fraude, evidentemente.

A opção de investir nos mercados financeiros, seja directa ou indirectamente através de fundos, deve ser acompanhada pelo enriquecimento do nível de conhecimento e sempre numa perspectiva de longo prazo, mas deve ser sobretudo ponderada como alternativa aos depósitos e produtos dos governos.

Não será possível beneficiar do efeito capitalização, pelo menos na próxima década, se uma parte das poupanças não estiver investida em risco.

Os bancos centrais estão, e vão continuar, a fomentar o efeito riqueza por via da valorização dos activos e por isso é que, apesar da volatilidade, os próximos anos devem ser de continuação dos ganhos para os principais mercados.

Esta segunda estirpe do vírus, mais violenta, vem demonstrar que a adopção de novos métodos de trabalho e a digitalização vieram para transformar a economia e os negócios. Os próximos dois anos irão ditar a divisão da sociedade e daqueles que vão conseguir adaptar-se. Sem visão e sem capacidade de adaptação teremos, inevitavelmente, um mundo cada vez mais desigual.

Boas festas e bons investimentos em 2021.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.