Parece que o ano de 2022 será visto como uma antevisão das dificuldades futuras, quer em termos de energia, quer de água. Neste momento, antecipam-se novos cortes de fornecimentos de gás natural por parte da Rússia, em particular no Inverno, novo surto de inflação, mais subidas de taxas de juro e arrefecimento da economia, com possibilidade de termos uma recessão pelo caminho.
Era muito importante que nos preparássemos para o que aí vem, não apenas numa perspectiva conjuntural, mas com uma visão de longo prazo, nomeadamente tendo em atenção as alterações climáticas e a ambição de eliminar as emissões de CO2 até 2050.
A Comissão Europeia esteve bem em propor a redução voluntária do consumo de gás natural em 15% e a reacção inicial do governo português foi infeliz, exibindo uma extraordinária falta de solidariedade com as dificuldades dos nossos parceiros e sendo muito incoerente com as alegadas preocupações ambientais que gosta de apregoar.
Na verdade, poupar energia é a única via que aponta na direcção da eliminação de novas emissões de gases de efeito estufa e temos feito muito pouco para isso e muitas vezes o oposto. Qual é a percentagem de edifícios públicos que tem certificação energética de topo? Sabiam que as obras da Parque Escolar resultaram na duplicação da factura energética das escolas? A negligência neste caminho é tão acentuada que é inevitável suspeitar que ocorra pelas piores razões: porque não dá para fazer inaugurações; porque não permite receber “comissões”.
Fazer transferências para as famílias mais pobres ajuda-as no curto prazo, mas fazer obras de conservação de energia, em particular nas habitações sociais, auxilia-as ainda mais e ao próprio país.
No final do 1º trimestre de 2021, o preço do petróleo (Brent) estava nos 55 euros, explodiu para mais do dobro com a invasão da Ucrânia, mas já baixou para menos de 100 euros/barril.
No caso do gás natural, o que se tem passado é bem diferente, com a agravante de as disparidades de preços a nível mundial serem muito maiores. Em Março de 2021, o seu preço na Europa era de 17 euros/MWh e tinha subido muito mais, para 89 euros/MWh na véspera da guerra. Entretanto, quase não tem parado de subir, estando próximo dos 200 euros/MWh em meados de Agosto, mais de onze vezes o preço antes do início da crise energética. Dificuldades de abastecimento no Inverno só poderão acentuar esta escalada.
Com a imprudência de fechar as centrais a carvão e a seca, aumentou o recurso ao gás natural para a produção de electricidade em Portugal, tendo o consumo atingido novo máximo em Julho, devido às elevadas temperaturas.
Ou seja, a maior utilização deste combustível bem como a explosão do seu preço irão, mais cedo ou mais tarde, reflectir-se nas facturas. O (pouco transparente) mecanismo ibérico de limitação de preços pode adiar um pouco este efeito, mas não o conseguirá anular, até pela intensidade da subida da cotação deste gás. Precisamos mesmo de poupar energia.
Em relação à água, parece também evidente que ainda mal começámos a adaptarmo-nos a viver com menos.
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.