As colunas de opinião servem frequentemente para alertar para riscos e falar do que pode correr mal. Portugal atravessa o momento mais difícil das últimas décadas e não faltam razões para escrever sobre os perigos que espreitam no horizonte, mas nesta coluna vamos falar daquilo que pode correr bem. Desta vez vamos tentar ver o copo meio cheio, porque como dizia um certo estadista de charuto que costuma ser lembrado em tempos de crise, o melhor mesmo é ser otimista, porque não há grande vantagem em ser outra coisa.
Este ano começou com um novo confinamento, mas poderá terminar de forma mais auspiciosa, tanto no que diz respeito à pandemia como aos seus efeitos na economia. Há dois fatores que sustentam esta expectativa.
O primeiro é o facto de o processo de vacinação estar em marcha e de se manter a previsão de vacinar 70% da população portuguesa até setembro. À medida que os casos de contágio diminuírem (o confinamento é deprimente e tem pesados custos, mas resulta) e as pessoas mais vulneráveis forem imunizadas, o país voltará gradualmente ao normal e a economia vai iniciar a sua recuperação.
Haverá, provavelmente, uma explosão de procura reprimida, com milhões de pessoas a voltarem subitamente a sair de casa, a frequentar restaurantes e a fazer compras presenciais. Os turistas estrangeiros, provavelmente, não regressarão em força no curto prazo, mas muitos portugueses irão com certeza passar férias no país. Basta recordar que no terceiro trimestre de 2020, em que houve uma tímida normalização, a economia portuguesa teve um crescimento em cadeia de 13%.
O segundo elemento a ter em conta é o facto de os sectores mais afetados pela crise – como a restauração – terem uma maior capacidade de recuperação do que as atividades que exigem capital intensivo. Os dramas humanos são os mesmos, quer se trate de uma empresa de serviços que fecha ou de uma fábrica, mas as consequências económicas e sociais a prazo são muito distintas.
As empresas são compostas por pessoas e na área dos serviços isto ainda é mais verdadeiro. Ao contrário de uma fábrica, com os apoios certos um restaurante ou uma loja – ou melhor, as pessoas que os fazem – podem rapidamente reabrir noutro local. Nos próximos tempos veremos muitos restaurantes e lojas fecharem portas, mas isso não tem de ser o fim da linha para os empresários e para os seus colaboradores.
Até ao momento, o Estado procurou sobretudo manter a economia ligada ao ventilador, com apoios às empresas para que estas possam manter os postos de trabalho. Mas muitas não irão sobreviver. Precisamos por isso de medidas que ajudem estas pessoas a lançar novos negócios e a voltar a criar emprego, quando a pandemia terminar.