Escrevo esta crónica no dia em que dois secretários de Estado são aguardados numa escola em Tomar, para numa ação de propaganda alardearem o início do plano de testes de antigénio nas escolas secundárias. Numa altura em que já quatro ministros do Governo foram contaminados com a Covid-19, que necessidade têm Inês Ramires e António Lacerda Sales de estarem presencialmente no local, contrariando a obrigatoriedade de teletrabalho que impõem aos cidadãos? Evidentemente, nenhuma outra senão darem ao acontecimento uma dimensão política que o decoro e o bom senso deveriam evitar.
Como seria de esperar, a situação em que se encontra Portugal em número de casos e mortes associadas à Covid-19 e a iminente situação de colapso em que está o SNS, já chegaram à imprensa internacional. E aquilo que deveria preocupar o Governo socialista, em termos de imagem e reputação de Portugal no mundo, é que esta semana e para citar apenas um exemplo, a Al Jazeera tenha destacado que o nosso sistema de saúde, mesmo antes da pandemia, “já tinha o menor número de camas de cuidados intensivos por 100.000 habitantes na Europa”.
Mas, para além da Al Jazeera, muitos outros órgãos de comunicação social estrangeira, incluindo o “Financial Times”, noticiaram a situação de desespero dos médicos e enfermeiros à medida em que o antes propalado “milagre português” se transforma num dantesco inferno e o SNS soçobra perante esta nova vaga e novas variantes do vírus, como a B.1.1.7 designada “a inglesa”, a B.1.351 surgida inicialmente na África do Sul ou ainda a B.1.1.248, encontrada tanto no Brasil como no Japão.
Num artigo publicado esta semana, a revista alemã “Der Spiegel” destaca aquelas que são as duas principais preocupações e as quais partilho: saber se as vacinas atuais são efetivamente eficazes face a estas mutações do vírus e, também, se um confinamento extremo conseguirá ou não travar a disseminação muito mais rápida destas mutações.
Em suma, e para terminar como comecei: todos os sinais parecem estar dados de que as escolas terão mesmo que ser encerradas. O Presidente da República já praticamente o disse e, aliás, o próprio António Costa o mencionou no debate quinzenal do Parlamento como mais provável de suceder, se os números continuassem a crescer. O que tudo faz prever que infelizmente acontecerá.
Enviar dois secretários de Estado a uma escola para uma ação de propaganda, apostando em testes rápidos à comunidade escolar cuja fiabilidade é reduzida e que terão de ser repetidos periodicamente, não permite contrariar a realidade que se impõe.
O que o Governo deveria já estar a fazer, em diálogo com a oposição e com as instituições representantes da sociedade civil nos diferentes sectores, era a definição de tudo o que teremos de fazer para sobreviver, não apenas ao vírus, mas aos efeitos de um verdadeiro confinamento nas pessoas, nas empresas, na sociedade e nas famílias.
O tema da semana será a tomada de posse de Joe Biden e por isso mesmo opto por chamar a atenção para Armin Laschet, o político eleito para substituir Merkel como líder da CDU. Depois das eleições gerais agendadas para setembro, deverá ser ele o novo Chanceler. É bom que comecemos a conhecê-lo e a saber como pensa. Ele, mais do que Biden, determinará o nosso futuro.
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