O exponencial desenvolvimento tecnológico iniciado no Sec. XX transformou todos os aspetos socioculturais que caracterizam as nações. Nos dias de hoje, tal desenvolvimento atingiu proporções sem precedentes, criando nos agentes económicos uma necessidade de atualização e modernização quase constante. A chamada Revolução Digital moldou as relações interpessoais e profissionais, um efeito que veio a ser exacerbado pela pandemia da Covid-19.

Consequentemente, foi de forma natural que o processo de globalização (para muitos especialistas iniciado nos Descobrimentos Portugueses e acelerado durante a Revolução Industrial) se viu imensamente beneficiado pela Revolução Digital. Além de moldar a atuação dos agentes económicos, moldou também a inter-relação das economias, aproximando-as e unificando ainda mais o mundo, facilitando o surgimento de um só mercado global.

Este mercado global apresenta possibilidades infinitas para as empresas contemporâneas no nosso país.

Em primeiro lugar, ao terem acesso a um mercado de dimensão mundial, as empresas aumentam o seu leque de possíveis clientes, passando a poder exportar os seus produtos mais facilmente para qualquer parte do mundo. Por exemplo, em Portugal o valor das exportações aumentou 120.1% entre 2000 e 2019, num sinal claro da capacidade do nosso tecido empresarial de tirar partido das vantagens da globalização.

Em segundo lugar, o surgimento das Cadeias de Valor Globais (CVG) potencia o crescimento das empresas nacionais, abrindo ao nosso país a participação na criação e desenvolvimento de produtos que, se sozinhos, nunca seríamos capazes de produzir. Já em 2014, João Amador e Robert Stehrer afirmavam que a orientação da economia portuguesa para mercados estrangeiros era uma condição necessária para aumentar o crescimento potencial do PIB, e referiam como a participação nas CVG podia ser uma parte importante deste processo.

Todavia, os desafios do mercado global são tão infinitos como as suas possibilidades. Paralelamente ao aumento do número de potenciais clientes, aumenta também o número de competidores existentes, levando as empresas níveis de competição cada vez mais ferozes, com estas a terem de fazer muitos esforços para produzirem mais, melhor e mais barato. E se a teoria económica afirma que o mercado é tão mais eficiente quanto maior for a competição, também afirma que, sob competição livre e feroz, as empresas menos eficientes serão naturalmente eliminadas do mercado.

Assim, é fundamental que Portugal consiga desenvolver as suas empresas, para que não sejamos nós os elos mais fracos do mercado global competitivo. Além disto, também as CVG representam um enorme desafio para o nosso país.

No artigo acima citado, os autores também mencionam que estar presente em CVG não é necessariamente um sinónimo de boa performance económica, como à primeira vista se poderia pensar, defendendo que o mais importante é a posição que uma economia ocupa nas mesmas. Uma vez que a criação de valor acrescentado difere entre os vários níveis das CVG, conseguir estar presente nos níveis geradores de maior riqueza é fundamental para potenciar ao máximo o crescimento económico de um país.

Desta forma, preparar o nosso tecido empresarial para o futuro só se consegue se prepararmos as nossas empresas para competirem globalmente. Apenas um setor empresarial privado competente, moderno e bem equipado (humana e financeiramente) será capaz de gerar emprego de qualidade, potenciar o crescimento do PIB e valorizar o país no panorama internacional. Este será, muito provavelmente, um dos maiores desafios do nosso país nos próximos anos. Teremos de ser capazes de pensar de forma diferente do que temos feito até aqui, entendendo verdadeiramente que Portugal já não é um país pequeno, uma vez que fazemos agora parte de um mercado global unificado.

É fundamental que consigamos cimentar a nossa posição na União Europeia, pilar imprescindível para o crescimento económico nacional, através de um desenvolvimento sustentável, socialmente justo e territorialmente coeso. Precisamos de dar ao nosso setor privado as ferramentas que ele necessita para crescer, para que as nossas empresas se consigam equiparar às suas competidoras na restante Europa e no mundo.

A competição é essencial para o desenvolvimento da sociedade e para a melhoria das condições de vida das populações. Não nos cabe a nós, enquanto país, evitar a competição, mas sim prepararmo-nos o melhor possível para ela, para vingarmos no mundo global e, consequentemente, nos desenvolvermos e crescermos.

Todos estes desafios e muitos outros foram soberbamente abordados e discutidos no debate “Competing in a Global World” que fez parte do Economia Viva 2021.

O artigo exposto resulta da parceria entre o Jornal Económico e o Nova Economics Club, o grupo de estudantes de Economia da Nova School of Business and Economics.