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Presidente da REN21 sobre a passagem para as Renováveis: “Para que a transição energética aconteça tem de haver uma liderança política”

De uma forma geral 92% da procura de energia nos transportes continua a ser satisfeita por petróleo, e apenas 42 países têm metas nacionais para o uso de renováveis nos transportes, conclui o Relatório anual da situação global das Renováveis.
4 Junho 2018, 22h12

O total da potência elétrica instalada a nível mundial em 2017, 70 % (178 GW) foi correspondente a renováveis. É o maior aumento de potência anual em centrais renováveis na história moderna, segundo o Relatório da Situação Global das Renováveis (Renewables 2018 Global Status Report) da REN21.

“No entanto, nos setores do aquecimento e arrefecimento e transportes – que, no seu conjunto, representam quatro quintos da procura final de energia a nível global, – a transição para fontes renováveis e sustentáveis continua muito aquém do progresso do setor elétrico”, revelam em comunicado a APREN – Associação Portuguesa de Energias Renováveis e a REN21.

Arthouros Zervos, Presidente da REN21, considera que “para que a transição energética aconteça tem de haver uma liderança política – por exemplo acabar com os subsídios para os combustíveis fósseis e para o nuclear, investir nas infraestruturas necessárias e estabelecer metas e políticas ambiciosas para o aquecimento, arrefecimento e transportes. Sem essa liderança, será difícil o mundo atingir os compromissos climáticos ou de desenvolvimento sustentável”, refere o comunicado.

Nos transportes, “o aumento da eletrificação está a oferecer oportunidades para o aumento das renováveis, apesar da predominância dos combustíveis fosseis: Em 2017, foram vendidos 1,2 milhões de automóveis elétricos de passageiros, mais de 58% em relação a 2016”, diz o estudo.

A eletricidade fornece 1,3% das necessidades energéticas para os transportes, mas deste 1,3% apenas um quarto tem origem renovável.

Por sua vez, os biocombustíveis suprem 2,9% das necessidades. De uma forma geral, no entanto, 92% da procura de energia nos transportes continua a ser satisfeita por petróleo, e apenas 42 países têm metas nacionais para o uso de renováveis nos transportes. Assim, para ocorrer uma mudança, tem de ser posto em prática um enquadramento legislativo que incentive a inovação e a integração de novas tecnologias de energias renováveis nestes setores.

Ambas, a APREN e a REN21, anunciam que a transformação do setor elétrico está a acelerar, mas que são necessárias ações urgentes nos setores do aquecimento, arrefecimento e transportes. “No setor energético a transição para as renováveis está a acontecer, mas a um ritmo mais lento do que seria possível ou desejável. O compromisso assumido no Acordo de Paris em 2015 para limitar o aumento da temperatura global “bem abaixo” dos 2°C em relação aos níveis pré-industriais, torna clara a natureza deste desafio”.

De acordo com o relatório, as centrais solares tiveram um crescimento assinalável no ano de 2017: A potência das novas centrais solares fotovoltaicas foi, só por si, superior ao acréscimo verificado nas centrais nucleares, térmicas a carvão e gás natural combinadas; e o aumento da capacidade em energia solar fotovoltaica foi 29 % superior ao de 2016, representando 98 GW.

De acordo com a REN21, destaca-se ainda que “o valor do investimento em nova capacidade de produção renovável foi mais do dobro do investimento em combustíveis fósseis e energia nuclear combinados, apesar dos elevados e incessantes subsídios para a produção energética via combustíveis fósseis. Este desempenho foi possível graças à cada vez maior competitividade das energias renováveis”.

A nível regional, o investimento em renováveis concentrou-se essencialmente na China e Estados Unidos da América que contabilizaram aproximadamente 75% do investimento global em renováveis em 2017.

“Quando contabilizado por unidade de PIB, as Ilhas Marshall, Ruanda, Ilhas Salomão, Guiné-Bissau e outros países em desenvolvimento estão a investir tanto ou mais em energias renováveis do que os países desenvolvidos e as economias emergentes”, diz a nota.

Apesar do progresso verificado, tanto a procura de energia como as emissões de CO2 relacionadas com a sua utilização aumentaram substancialmente pela primeira vez em quatro anos. A nível mundial as emissões de CO2 relacionadas com a energia aumentaram 1,4 % e a procura de energia aumentou cerca de 2,1 %, em 2017, lê-se no comunicado.

“Em parte, tal crescimento deveu-se a um crescimento das economias emergentes e ao aumento de população”, refere.

No relatório é ainda mencionado que, se o mundo quer atingir as metas previstas no Acordo de Paris, então os setores do aquecimento, arrefecimento e transportes terão de seguir o trajeto do setor elétrico.

A análise do progresso destes setores evidencia pequenas mudanças no aumento das renováveis no aquecimento e arrefecimento – a energia renovável “moderna” forneceu aproximadamente 10% do total global de produção de calor em 2015. As metas nacionais para a energia renovável no aquecimento e arrefecimento existem apenas em 48 países, enquanto 146 países têm metas para as energias renováveis no setor elétrico.

De acordo com Rana Adib, Secretária Executiva da REN21, “Associar ‘eletricidade’ e ‘energia’ está a levar à inação”. “Podemos estar no bom caminho para um futuro com 100% de renováveis no setor elétrico, mas no que que diz respeito ao aquecimento, arrefecimento e transportes, estamos à deriva como se tivéssemos todo o tempo do mundo, e não temos.”, lê-se no comunicado.

 

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