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Presidente de Cabo Verde alerta que insegurança alimentar pode provocar tensão social

O Presidente cabo-verdiano, José Maria Neves, alertou hoje que a insegurança alimentar pode provocar tensão social no país e pediu “mudanças radicais e profundas”, bem como contenção e racionalização das despesas públicas.
20 Outubro 2022, 14h33

Ao intervir, na cidade da Praia, na abertura de uma conferência sobre economia, o chefe de Estado começou por apontar alguns efeitos da seca, da pandemia da covid-19 e da guerra na Ucrânia e lembrar que dados recentes estimam que cerca de 30 mil cabo-verdianos encontravam-se em situação de insegurança alimentar e 107 mil sob pressão alimentar.

Para o Presidente cabo-verdiano, “é fundamental” garantir o acesso dessas famílias aos alimentos, alertando que essa insegurança alimentar pode gerar tensão social.

“As razões para se declarar situação de emergência social e económica são excecionais e exigem respostas excecionais e atenção prioritária, principalmente, em relação às famílias mais vulneráveis”, apontou José Maria Neves, na abertura da conferência internacional, organizada pelo Instituto Superior de Ciências Económicas e Empresariais (ISCEE) cabo-verdiano.

“Aqui vale o ditado ‘quem tem fome tem pressa’. Neste caso, mais do que fazer o possível – que pode não ser suficiente – as circunstâncias exigem que se faça tudo o que for necessário”, insistiu o Presidente da República, entendendo que a situação requer ainda um esforço interno de contenção e de racionalização das despesas públicas.

Desde 2017 que o país vinha enfrentando sucessivos anos de seca, com consequente redução da produção agropecuária e do rendimento das famílias, especialmente no meio rural, contribuindo também para a deterioração da segurança alimentar e nutricional das famílias e para a redução da disponibilidade da água para o abastecimento público e para a agricultura irrigada.

Em fevereiro último, o Governo declarou situação de calamidade no país até 31 de outubro, devido aos maus resultados do ano agrícola, e anunciou medidas preventivas e especiais.

Entretanto, as chuvas que caíram desde junho um pouco por todo o arquipélago levaram as autoridades cabo-verdianas a prever um bom ano agrícola, com produção, pasto e água.

Congratulando-se com medidas do Governo no Orçamento do Estado de 2023 para mitigar o impacto das crises, José Maria Neves pediu ainda mais investimento na Educação e nas energias renováveis, neste último para aumentar a resiliência e reduzir a importação de combustíveis.

Também disse que “urge revolucionar” o sistema de transportes aéreo e marítimo e prestar “muita atenção” aos sistemas de regulação técnica e económica, tendo em conta a dimensão do mercado e os interesses nacionais.

“Qualquer regressão pode ser fatal para a competitividade do país”, avisou Neves, que considerou a conferência como uma “excelente iniciativa” e enalteceu o papel das universidades para promover debates e intervenção crítica sobre os mais diversos assuntos.

Mas face à situação atual, pediu “mecanismos inovadores” de financiamento do ensino superior no país, numa altura em que as universidades enfrentam desafios como o aumento das dívidas dos estudantes e a redução do número de inscritos.

Entre esses mecanismos, José Maria Neves apontou o ensino de qualidade, investigação, aproveitar os avanços científicos da inovação, bem como aproveitar melhor as competências e talentos da diáspora cabo-verdiana.

A conferência, realizada hoje na Praia e na sexta-feira no Mindelo, ilha de São Vicente, teve como tema do primeiro painel “Cabo Verde e os impactos da guerra Rússia – Ucrânia: medidas, estratégias e políticas de mitigação”.

Durante os dois dias, vários especialistas nacionais e estrangeiros, presenciais e por videoconferência, vão debater outros temas, como “Afirmação da Economia Digital no pós-guerra”, o “Crescimento económico, dívida pública e inflação em África” e “A nova ordem económica mundial e o futuro dos blocos económicos no pós-guerra”.

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