Hesitei muito em escrever sobre o Presidente Jorge Sampaio. Muito já foi dito, e bem, acerca da personalidade, contributo e percurso do Presidente Sampaio e por isso achei que corria o risco de dizer banalidades e lugares-comuns que em nada homenageariam o Homem e o Político.

Mas depois da hesitação inicial decidi que o devia fazer. Quem, como eu, teve o prazer e privilégio de o conhecer não pode, ou não deve, ficar em silêncio num momento tão triste.

Conheci-o durante a campanha presidencial de 2001, onde fui a sua mandatária para a juventude (a par com o Luís Represas). As eleições eram bem mais tranquilas que as anteriores que tinham sido disputadas contra Aníbal Cavaco Silva. Acho que uma das primeiras coisas que me atraiu para esta campanha foi precisamente poder privar com o político que tinha derrotado Cavaco Silva.

A vitória estava garantida, mas era, de certa forma, o consolidar de um determinado tipo de líder: um homem particularmente inteligente, com um sentido de serviço e de civismo únicos, com uma cultura ímpar. O tipo de pessoa que por ter um percurso de luta pela democracia que falava por si, e por ser tão superior intelectualmente, não tinha de ser sobranceiro. Pelo contrário, era de uma enorme simplicidade a lidar com as pessoas que o rodeavam ou com estranhos que o abordavam.

Era firme, mas sempre gentil. Uma das primeiras coisas que me impressionou foi o cuidado no contacto individual. Na azafama da campanha, sendo Presidente em funções, nunca deixava de ter tempo para me vir dar uma palavra antes de um discurso (para garantir que não estava nervosa e motivar-me) ou depois (para dar os parabéns e um elogio sincero).

Preocupou-se em conhecer-me, quem eu era, de onde eu vinha, a minha família, a minha profissão. Por essa altura tinha um filho pequeno e estava ainda a amamentar. Frequentemente o presidente Sampaio mostrava uma preocupação genuína com os meus horários e restrições. Chegou inclusivamente a oferecer-me “boleia” no Falcon para não falhar um horário de refeição do meu filho.

Tinha um sentido cívico único, testemunhei-o várias vezes. Um dos exemplos que me ficou gravado na memória, apesar de aparentemente inócuo, era o da velocidade a que a caravana de campanha se deslocava. Com horários impossíveis, a percorrer o país de norte a sul, não gostava que se ultrapassassem os limites de velocidade. Entre nós brincávamos que devíamos ser os únicos a 120 na autoestrada.

Não acreditava em melhores nem piores e não se achava, acredito que convictamente, melhor do que ninguém. Tinha fortes convicções (nomeadamente, políticas) mas nunca era arrogante. Agradecia-me frequentemente pela minha participação e envolvimento na campanha quando era óbvio que o agradecimento devia ser meu pela oportunidade de estar envolvida, de o conhecer um pouco e de aprender muito.

Por tudo isto, e muito mais, fica aqui a minha muito simples e insuficiente, mas sincera, homenagem a um grande Político e, como disse o Eng.º Guterres, a um dos nossos melhores.