É nos tempos mais difíceis que assistimos às promessas de ganhos fáceis, rápidos, sem risco e para ontem. A história está cheia de exemplos em como as modas são aproveitadas por charlatões – desde Dona Branca, que nos anos 80, em Portugal, prometia ganhos de 10% ao mês, às  fazendas de gado Boi Gordo, no Brasil, passando por Bernard Madoff, nos EUA. Prometiam e ostentavam a riqueza com que todos sonhamos.

Com o confinamento e a ausência de apostas desportivas, mais pessoas são atraídas para esquemas de enriquecimento rápido, e não se pense que são apenas os mais novos. Pela popularidade e evolução ao longo dos últimos anos, as criptomoedas e o mercado de Forex são o isco perfeito.

Os esquemas são variados. Desde a venda de cursos por pessoas que não nos ensinam nada que não esteja disponível numa pesquisa rápida na Internet, até ao aliciamento no investimento, com ou sem “dicas”, em plataformas de Forex e de criptomoedas que, sediadas noutros países, oferecem menor proteção aos investidores portugueses.

Estes esquemas estão a generalizar-se um pouco por todo o mundo e sobrevivem graças a algumas jurisdições que alimentam um negócio de milhares de milhões de euros. Falta coragem à União Europeia para pôr em ordem países como o Chipre, ou mesmo a Suíça, onde a opacidade e a dificuldade de acesso à informação dificulta qualquer investigação séria.

A facilidade com que são oferecidos serviços de abertura de corretoras no Chipre e arredores, leva-nos a pensar que este é o paraíso escolhido pelos charlatões, que, com facilidade, transferem os seus ganhos para contas de empresas sediadas noutras jurisdições mais longínquas, como as Maurícias ou Caraíbas, onde as alavancagens ou endividamentos fazem parecer a queda do family office Archegos uma brincadeira.

Outro esquema mais recente são as transacções online em “tempo real” sobre Forex ou criptomoedas, onde o que interessa é captar a atenção  do espectador para ganhos de milhares de euros em minutos, que são mostrados no ecrã ou ouvidos pelos gritos de alegria apregoados mas que em momento algum são comprovados. Os nossos sentidos são baralhados por forma a limitar a racionalidade e levar ao investimento com base na emoção, aliás, o pior erro que se pode cometer.

A poupança deve ter como objectivo atingir as nossas metas pessoais ou familiares, envolvendo um plano de investimento com conhecimento, e uma gestão das emoções, naquilo que é uma ‘viagem’. Importa recordar que investir não é fácil, e aprender a não cair em promessas de enriquecimento rápido é uma das aprendizagens mais relevantes em todo este processo.

Nunca foi tão importante saber o que devemos fazer com as nossas poupanças e com o nosso futuro, mas como reza a sabedoria popular, gatas apressadas têm filhos pardos.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.