O problema dos incêndios advém de duas questões relacionadas: a propriedade e a rentabilidade dos terrenos. Para haver um mínimo de rentabilidade (rendimento que supere os custos), tem que existir aquilo que os economistas definem como “escala óptima mínima”, que não existe hoje, com mais de um milhão de proprietários florestais.

O problema é que quando não há rentabilidade, os proprietários tenderão a abandonar a gestão dos terrenos, porque não compensa. Infelizmente, nas últimas décadas, muitas mudanças trouxeram uma redução da rentabilidade (na resinagem, pastoreio, etc.) e consequente aumento do abandono.

Mais recentemente, a forma como foi definida a limpeza de terrenos, correspondeu a um “imposto” confiscatório com uma taxa muito superior a 100% do rendimento, sem equivalente em qualquer outra actividade ou tipo de propriedade. Ou seja, temos uma legislação impossível de cumprir. Pergunto: uma viúva de 75 anos com uma pensão de 300 euros vai limpar o quê?

Finalmente, entrou-se mesmo num círculo vicioso, por causa dos incêndios. O aumento da frequência deste fenómeno destruiu a rentabilidade das espécies de crescimento lento, que praticamente deixaram de conseguir sobreviver até à maturidade, incluindo o caso dos pinheiros-bravos. A única espécie que manteve a rentabilidade foi o eucalipto, porque tem um ciclo mais curto do que o da frequência dos incêndios. No entanto, tem havido uma gigantesca campanha contra esta árvore, mesmo para lá do que a ciência justifica. No entanto, mesmo que não houvesse esta propaganda, seria absurdo e até impraticável preencher todo o país com monocultura de eucalipto.

Assim, as soluções terão que passar por duas vias: agregação das propriedades e subsídio da gestão florestal. Em relação à agregação, há imensos proprietários que estão interessados em vender (alguns até em oferecer), pelo que faz sentido haver fundos públicos e privados a fazer esta consolidação de terrenos.

Em relação aos subsídios de gestão, poderão ser atribuídos em troca de pastoreio, plantio de espécies autóctones de crescimento lento e até de prestação de serviços de biodiversidade, entre outras.

Uma sugestão final à comunicação social: escolher Janeiro como o mês de prevenção dos incêndios, para pressionar os políticos a passar à acção os planos entretanto aprovados.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.