Todas as previsões foram já divulgadas. O ano de 2019 está escrito nos astros. Politicamente tudo se resolverá em saber se o PS terá ou não maioria absoluta. O restante é dado como assente. Ou seja, o vencedor indiscutível das eleições de Outubro próximo será o Partido Socialista, liderado pelo “timoneiro” António Costa. Não encontrei vozes dissonantes. O futuro está definido.

Arrumado o futuro, olhemos então para o passado. Será ainda cedo para o estudar com um mínimo de rigor. Passaram poucos anos e ainda que os protagonistas estejam todos no activo muitos não se pronunciaram. Acresce faltarem informações consistentes e indiscutíveis que permitam validar a evolução económica, financeira e social do país da última década, ou seja do fim do mandato de Sócrates, de todo o mandato de Passos Coelho e, finalmente, dos três anos da maioria de esquerda liderada por Costa.

E porque esses dados não são ainda definitivos esse passado tem sido apresentado aos portugueses sob uma única luz: a do fim da austeridade imposta ao país, a mando da troika, pelo governo Passos Coelho, o qual em certos aspectos, por opção ideológica, terá ido mais longe até do que as determinações dessa mesma troika.

Esta narrativa (como agora se diz) veio a ser, nos últimos anos, sistematicamente veiculada pela “geringonça” tendo merecido benévolas recepções da generalidade dos comentadores (e alguns muito próximos do PSD). E para quem duvidasse aí estavam (e estão?) os “impressionantes” números da baixa do desemprego, do aumento do PIB, da redução da dívida pública e a coroa de glória disso tudo, a meta do deficit zero.

Ora o que importa conhecer desse passado para estar em condições de discutir a tal narrativa é, em primeiro lugar, saber se não continuamos em austeridade (mais ou menos disfarçada), se, admitindo que houve melhorias na situação económico-social dos portugueses, não haverá nisso um decisivo contributo do governo Passos Coelho, que geriu a crise e a ultrapassou (com esforço dos portugueses, como é evidente) e, finalmente, se a manutenção do governo Passos Coelho na actual legislatura (que foi a escolha maioritária dos portugueses, não esqueçamos) e aplicação do seu programa não teria conduzido a um resultado muito próximo do actual, com a vantagem de deixar o país mais preparado para futuras crises que inevitavelmente acontecerão.

A verdade é que na semana passada, António Costa, na conversa natalícia, só faltou falar de “austeridade” e o próprio ministro das Finanças, alterando o discurso oficial, quase que admitiu méritos ao governo anterior. É por isso que o passado se torna muito mais difícil de definir do que o futuro.

O historiador da experiência soviética Geoffrey Hosking, dá nota de várias anedotas que circulavam nos tempos da URSS a propósito do controlo da memória, algumas delas veiculadas pela mítica Rádio Arménia. Pergunta: pode adivinhar-se o futuro? Resposta: “Sim, isso não é um problema. Sabemos exactamente como será o futuro. O nosso problema está no passado… que continua a mudar!”. Desejo pois aos leitores um excelente 2018!

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.