António Costa, o primeiro-ministro, está fixado na presidência portuguesa da União Europeia, a acontecer no primeiro semestre de 2021. Até lá vão-se seguindo os episódios na área da saúde com doentes que morrem nas urgências de Beja e de Lamego, o caso de racismo que visou Moussa Marega e a relevância do futebol para afirmar o tema. Enquanto isso discute-se o tema fraturante da eutanásia e há um polícia que é sovado num bairro problemático.
Pelo meio ainda temos a discussão sobre o futuro do ministro das Finanças. Será que quer o Eurogrupo e as Finanças ou o Banco de Portugal? E de uma forma pouco subtil os putativos sucessores de António Costa à frente do PS vão-se posicionando, com Fernando Medina a disciplinar Lisboa e os seus habitantes, e Pedro Nuno Santos a insurgir-se contra os prémios na TAP em ano de prejuízos.
A tudo isto o primeiro-ministro responde com a tática vencedora de gestão com terra à vista. Não há outra estratégia. Diríamos que o PM só não está em “phasing out” porque tem a segurança do Governo por razões constitucionais, mas o seu último suspiro será a referida presidência da UE.
Costa tem um Parlamento complexo, onde é difícil aprovar uma política com suficiente consistência e credibilidade. E o tema das férias dos funcionários públicos ou até mesmo a eutanásia vão para o debate público para, de alguma forma, baralhar outras matérias que seriam igualmente relevantes, como seja o estado da economia, o financiamento público e privado, o estado da banca portuguesa e o consumo público e privado que não para de subir.
Na verdade, já passámos por este tipo de estado letárgico da economia mas, mal ou bem, os assuntos eram tratados entre primeiros-ministros e banqueiros ou com empresários de craveira como Belmiro de Azevedo ou Américo Amorim. Nos dias de hoje, porém, o Governo não tem com quem dialogar, pois o tecido produtivo da economia portuguesa está nas mãos de grupos familiares com um nível de desgaste grande, ou nas mãos de investidores estrangeiros com problemas de compliance.
Ora, sabemos que a economia e a política nacionais precisam de líderes. Nos dias que correm, a estratégia de políticos e empresários é sobreviver. A média de idades dos gestores do tecido económico é superior a 60 anos, e os gestores mais novos estão nas empresas sem peso e sem drive. Claro que há um sacrificado: a esmagadora maioria dos trabalhadores por conta de outrem.
Ao contrário do que diz a propaganda socialista, nos últimos anos os políticos não conseguiram atrair para Portugal grandes projetos mobilizadores, altamente tecnológicos e criadores de emprego. E a fuga para a frente com o turismo não é solução, pois esta indústria tem um prazo de validade na economia nacional. Basta olharmos para o Algarve política e estrategicamente abandonado ao turismo de massas e o Porto ao low cost, perante a moda de Lisboa. Hoje, o esteio do turismo de qualidade – do golfe ao turismo de natureza – está ao abandono e muitos resorts estão em franca degradação, acompanhados por baixas de preços. Alguém reclamará pelo saudoso “Allgarve”.
Se alguém conseguir trazer uma solução para esta equação nacional ganhará o chamado centro, poderá ganhar o PSD e o centro-direita, tornar-se um líder incontestado e suceder a Costa.