À semelhança do que aconteceu em 2013, o processo de preparação do novo período de programação de fundos europeus da política de coesão (2021-2027) atribui grande relevância às estratégias de especialização inteligente (S3). Estas estratégias encontram-se em fase avançada de preparação no país, quer em termos regionais quer em termos nacionais. O objetivo das S3 é estimular a concentração de conhecimento e de recursos de inovação num número limitado de domínios (existentes e novos) com o propósito de melhorar as capacidades territoriais que alimentam a inovação e o desenvolvimento económico.

A Comissão Europeia organizou recentemente uma conferência nacional subordinada ao tema “Estratégias de Especialização Inteligente em Portugal”, na qual se procurou fazer um balanço da experiência associada ao período de programação 2014-20 atualmente em fase final de implementação. Uma das ideias de força relevadas foi o “grande número de domínios largos” que carateriza as atuais S3 no país, o que é um facto e, ao mesmo tempo, um paradoxo. Como pequeno país que somos, deveríamos ao invés ser parcos e incisivos nas apostas a fazer.

 

“Strategy is about making choices, trade-offs” – Michael Porter
Na definição das S3, a realidade de partida dos territórios é essencial, mas a escolha dos “alvos” não é menos importante. A razão é simples: as atividades económicas não são todas iguais e não é indiferente apostar numas e não em outras. Deveríamos, pois, dedicar bastante atenção aos alvos potenciais, olhando com atenção o mundo mais desenvolvido, independentemente dos processos de descoberta empreendedora (instalados) no país. Isso pode não ser estratégia de especialização inteligente, mas é certamente especialização estratégica a considerar.

No seguimento das apostas passadas, também é importante olhar para o que está a acontecer no terreno. Dito de outra forma, importa avaliar os resultados das apostas feitas, mesmo que as mesmas tenham servido para tudo (dado o “grande número de domínios largos” que carateriza as S3 em implementação no país).

 

“However beautiful the strategy, you should occasionally look at the results.” – Winston Churchill
Os resultados são reveladores. É nas indústrias da mobilidade, nas TIC, nas indústrias de produto e nas indústrias de processo onde o esforço de I&D+I parece estar a ser mais tomado pelas empresas. A economia do mar, a saúde, a floresta e a energia, ao invés, então entre as atividades onde o gap de valorização se mostra mais relevante.

A verdade é que, independentemente das S3 e das apostas públicas, existem em terreno nacional apostas empresariais arrojadas, que em alguns casos estão a fazer a fronteira tecnológica europeia e até mundial.

 

“Strategy is a commodity, execution is an art.” – Peter Drucker
Significa isto que as atuais estratégias S3 de “grande número de domínios largos” pelo menos não têm barrado a afirmação de alguns importantes processos nacionais de descoberta empreendedora. Seria bom que no futuro permitissem afirmar outros onde o gap de valorização é maior, sobretudo aqueles que estiverem associados a atividades de futuro e de elevado valor acrescentado.