Na era digital em que vivemos, com a tecnologia presente em grande parte do nosso dia a dia, é comum que as pessoas partilhem informações pessoais para aceder a serviços ou comprar produtos. Face a este cenário onde as nossas informações pessoais estão cada vez mais expostas e interligadas, importa refletir sobre a importância da privacidade e confiança do consumidor: dois pilares essenciais nas organizações.

Estudos como o primeiro relatório de Privacidade e Confiança do Consumidor da IAPP -International Association of Privacy Professionals, publicado em março deste ano, desafiam a sabedoria convencional que há muito depreende que as pessoas não se importam com a sua privacidade. De acordo com este relatório, cujas conclusões resultam de entrevistas a 4.750 indivíduos em 19 países, 68% dos consumidores em todo o mundo estão um pouco ou muito preocupados com a sua privacidade online.

Numa época propícia a compras online, motivada pela Black Friday e o Natal que se aproxima, importa relembrar que a privacidade é um direito fundamental que deve ser protegido. Os consumidores têm o direito de saber de que forma os seus dados são recolhidos, armazenados e utilizados. Quando as empresas não cumprem com o seu dever da transparência e da proteção dos dados, não só a confiança do cliente é prejudicada, como também a boa reputação da empresa pode ficar seriamente comprometida.

Recordemos o escândalo que envolveu o Facebook e a Cambridge Analytica, no qual os dados pessoais de milhões de utilizadores foram indevidamente partilhados e usados para influenciar processos eleitorais. Esse incidente acabou por influenciar negativamente a confiança do público na plataforma e as empresas envolvidas sofreram sérias repercussões, não só reputacionais como financeiras.

A confiança é um ativo inestimável no mundo dos negócios e as empresas que melhor praticam a privacidade estão a ser recompensadas com a confiança do consumidor – um dos bens mais valiosos no mercado atual. De acordo com o mesmo estudo citado anteriormente, 64% dos consumidores indicam que as empresas que fornecem informações claras sobre as suas políticas de privacidade aumentam a sua confiança. Pelo contrário, 33% dos consumidores perderiam a confiança numa organização que utilizasse os seus dados para lhes oferecer produtos ou serviços de outra organização.

Do ponto de vista de negócio, é consensual entre os gestores que ganhar um cliente é muito mais dispendioso e demorado do que reter os que já existem, pelo que a confiança do consumidor é hoje um dos indicadores a que as organizações devem prestar maior atenção.

As empresas devem adotar uma abordagem proativa para a proteção de dados, o que implica a implementação de políticas de privacidade claras e políticas de segurança robustas, a contratação de especialistas em privacidade de dados, e a sensibilização dos funcionários para a importância da privacidade, sempre que possível através da formação.

No entanto, a responsabilidade não recai apenas sobre as empresas. Os consumidores devem, também eles, procurar estar informados e tomar medidas para proteger a sua própria privacidade, seja através da personalização de consentimentos, de ajustes às configurações de privacidade, e até da utilização de passwords fortes e frequência de alteração.

Concluo com a certeza que proteger a privacidade do consumidor e construir a sua confiança são imperativos para qualquer negócio. As empresas que fazem da proteção de dados uma prioridade e promovem a confiança do consumidor colherão os benefícios de relacionamentos mais sólidos e duradouros com os seus clientes, enquanto respeitam os direitos fundamentais de privacidade de um mundo cada vez mais digital e conectado.