Durante muitos anos, perante a acusação de que o Estado pagava salários acima do resto da economia, dizia-se que isso se devia ao facto de o sector público ter trabalhadores com mais formação.

Finalmente, o INE disponibilizou informação que permite esclarecer parte destas dúvidas. Em 2021, as administrações públicas pagaram um salário médio bruto de 2019€ aos seus 741 mil funcionários, enquanto o sector privado pagou 1335€ a 3800 mil trabalhadores. Confirma-se que o Estado paga muito mais do que o resto da economia, mais 51%, uma grande diferença.

Também se valida a ideia de que o sector público tem trabalhadores com mais formação do que o privado. No primeiro, a percentagem de mão-de-obra com formação superior é de 27%, claramente acima dos 16% do outro.

A partir daqui começam as surpresas. No sector público, os trabalhadores com o secundário ganham 1514€, mais 12,3% do que no privado (1348€), enquanto aqueles com formação superior auferem 2957€, mais 30,7% do que no privado (2263€). Ou seja, o Estado paga vencimentos acima do sector privado, independentemente do nível de escolaridade.

Outra das queixas é que o Estado tem dificuldade em contratar pessoas com formação elevada, por ser pouco competitivo com o sector privado.

O percentil 80% (onde acaba o grupo dos 80% com menores remunerações) das remunerações dos licenciados no sector público é 3971€, mais 27% do que no privado (3119€), no percentil 90% é de 4471€, mais 6% do que no privado (4234€) e no percentil 95% o vencimento é de 5644€, também superior aos restantes (mais 3% face a 5464€). Ou seja, provavelmente só os 2% ou 3% mais bem pagos do sector privado é que ganham mais do que os equivalentes no Estado.

Acresce a tudo isto que a semana das 35 horas na função pública equivale a um aumento adicional de 14% do ordenado.

É verdade que há dificuldade na contratação de professores, mas isso também se deve a uma escandalosa falta de planeamento das necessidades; a uma incompreensível precaridade do emprego, que pode durar décadas e seria ilegal no sector privado; à invenção de uma burocracia inexplicável e muitos etc. Um aumento da remuneração dos professores no quadro sem redução da precaridade não deve atrair nenhum trabalhador.

Uma coisa é certa: o governo e os sindicatos da administração pública devem-nos explicações sobre estas disparidades, sustentadas em informação credível, detalhada e pública e não em meros “slogans”.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.