A insurgência em Moçambique veio para ficar, e não vai ser fácil erradicá-la. Quanto mais tardia for a resposta, mais difícil será. O fenómeno não se limita a Moçambique e alastra-se às regiões limítrofes, nomeadamente à Tanzânia, país com o qual Moçambique partilha uma longa fronteira. As autoridades moçambicanas defrontam não apenas organizações jiadistas autóctones como internacionais, nomeadamente o Estado Islâmico. À semelhança da Bósnia, Moçambique está a tornar-se num teatro de operação para os jiadistas “desocupados” oriundos de regiões onde os seus serviços deixaram de ser necessários. Não do Afeganistão, mas da Síria e do Iraque. Há abundantes relatos de sírios no comando das unidades militares insurgentes.

Todos os dias contam. Os insurgentes estão cada vez mais fortes e confiantes. As suas operações militares aumentaram ultimamente de sofisticação e letalidade. Apesar da gravidade da ameaça, subsistem questões cujo debate não pode ser ignorado. Fala-se pouco sobre a estratégia a adotar. Aí o debate é exíguo. O Governo moçambicano parece estar sem soluções. Começou por combater a insurgência recorrendo a grupos de mercenários, o que provou ser uma má opção. Paira agora no ar a possibilidade de o Exército sul-africano e de a Comunidade para o Desenvolvimento do Sul de África (SADC) se envolverem no conflito.

Independentemente da ajuda externa que possa vir a ser prestada, é bom que as autoridades moçambicanas tenham presente que o problema terá de ser resolvido por elas, e não por outrem. Se, por um lado, é desejável que a comunidade internacional as apoie política e financeiramente, assim como com treino e equipamento militar; por outro, é altamente desaconselhável a sua participação militar no conflito. O grande ator da luta contra-subversiva terão de ser as Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM).

Mas antes que esse apoio se possa materializar, os moçambicanos terão de se organizar e resolver alguns problemas incontornáveis, como seja o da rivalidade entre a polícia e as forças armadas, e o da liderança do combate contra-subversivo. Estas dúvidas não podem subsistir porque corroem qualquer esforço sério de desenvolver uma estratégia contra-subversiva coerente. É imperioso esclarecê-las com rapidez, porque as contra-insurgências, já por si difíceis de vencer, são lideradas pelos militares, desempenhando a polícia um papel de apoio à manobra militar, integrando a manobra psicossocial. E não o contrário. Manter as FADM – a principal força para combater os insurgentes – menos equipadas e com menos recursos do que a polícia, com as naturais consequências no moral e na motivação para combater, é a receita para o insucesso.

Enquanto estas questões não forem resolvidas de pouco valerá o apoio externo. Qualquer que seja a decisão tomada, terá de ser extremamente ponderada, de modo a não transformar o território moçambicano em mais uma frente do combate jiadista internacional, como já o foram o Afeganistão, o Iraque ou a Síria quando forças internacionais se envolveram naqueles conflitos. Temos bem presente a reação do Estado Islâmico à chegada dos mercenários russos a Moçambique, reforçando rapidamente as suas unidades com combatentes de outras regiões da África Oriental, nomeadamente da Somália. Há que evitar a todo o custo que isso ocorra em Moçambique.