Apesar de o conceito de wicked problems ter surgido primeiro num artigo de Churchman de 1967 na revista “Management Science”, a sua afirmação no âmbito das políticas públicas só chegou em 1973 com a publicação do artigo na revista “Policy Sciencies” intitulado “Dilemmas in a General Theory of Planning”, por Horst Rittel and Melvin Webber ambos da University of California, Berkeley.
Este artigo articula uma importante distinção entre problemas tame e wicked, indicando que os últimos são o tipo de problemas com que se debatem tipicamente as políticas públicas dos vários governos.
Mas, afinal, o que são wicked problems? De uma maneira simples, são problemas que envolvem diferentes partes, com poder para determinar e influenciar o problema e as possíveis respostas ao problema. Essas partes têm interesses e valores relativamente ao problema distintos e até opostos. Por essa razão, é difícil chegar a uma definição consensual do problema, bem assim como a um conjunto de respostas possíveis.
Além destas características, este tipo de problemas não tem solução, sendo apenas passíveis de registar melhorias que são sempre temporárias, negociadas e frágeis. Não existem, portanto, escolhas certas e erradas em relação ao problema, mas apenas boas ou más respostas.
Estes são problemas que com uma grande variedade de causas complexas e inter-relacionadas, sendo muitas vezes difícil de distinguir causas e efeitos. Partir o problema em pequenos problemas mais simples também não resulta, dado que mudanças numa parte afectam o todo de formas imprevisíveis. Por esta razão, os governos e os políticos são acusados de fazer promessas que depois não cumprem. E, também por esta razão, é difícil responsabilizar políticos.
Muitos deles não reconhecem sequer a natureza wicked dos problemas de política pública que enfrentam e, portanto, prometem metas impossíveis e não compreendem a natureza das respostas requeridas. Quem não se lembra da promessa do Presidente da República de acabar com os sem-abrigo?
Problemas relacionados com a pobreza, o emprego, a coesão social, saúde publica, ambiente, imigração, relações internacionais e alguns problemas de política económica são wicked e requerem um esforço colaborativo das partes. Requerem uma administração pública desenhada para a continuidade de políticas, elevada capacidade de negociação, elevada articulação interdepartamental, mas também de desenhar experimentos que ajudem a redefinir e renovar respostas a problemas que vão mudando.
Um governance interinstitucional adequado é outro ingrediente. Sem políticos e administração publica capazes de reconhecer a natureza wicked dos problemas, estaremos sempre à mercê das respostas simplistas, mas cativantes, dos populistas.
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.