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“Processamos 20 milhões de pagamentos por ano”, diz CEO da Switch

A Switch é um facilitador para os comerciantes que opera na cadeia de valor da indústria financeira. Não anda nas bocas do mundo porque o serviço que vende impõe o secretismo típico de um banco suíço. Tem idade para ser chamada de ‘startup’, embora apresente lucros desde que foi fundada há cinco anos por três portugueses que dominam a linguagem ‘geek’ da programação informática. A Switch é uma plataforma de pagamentos que liga os comerciantes à cadeia de valor de pagamentos através de um conjunto de APIs – interface de programação de aplicações.
  • Switch Payments
    Os três fundadores da Switch. Ruca Sousa Marques (CEO), André Tavares (COO) e Pedro Campos (CTO)
21 Novembro 2019, 11h00

Vinte milhões. É este o número de pagamentos que a Switch já processou nos primeiros onze meses do ano e foi o único número que conseguimos ‘sacar’ ao longo de uma entrevista de mais de meia hora aos três fundadores da Switch, Ruca Sousa Marques, Pedro Campos e André Tavares, durante a Web Summit.

“Diz em euros. Não gostas de dizer em euros?”, sugeriu André Tavares, chefe das operações (COO) da fintech portuguesa a Ruca Sousa Marques, CEO da Swicth. “Não, não gosto não. Estamos neste momento na marca dos vinte milhões de transações por ano”, referiu Ruca Sousa Marques.

O serviço que vendem, apesar de útil, está escondido na programação informática que dá vida a uma tecnologia que facilita o processamento de pagamentos aos comerciantes. É uma espécie de Matrix da tecnologia dos pagamentos – não se vê, mas está lá. Mas o CEO da Switch prefere descrever  a fintech como “uma Amazon Web Services dos pagamentos”.

“A Switch é uma plataforma de pagamentos que liga negócios à cadeia de valor de pagamentos através de um conjunto de APIs (interface de programação de aplicações)”, explicou Ruca Sousa Marques. “Focamo-nos em pagamentos C2B”, adiantou.

A Switch nasceu de uma ideia que não singrou porque Ruca Sousa Marques não conseguiu levantar capital para a levar avante. “Começámos a trabalhar em pagamentos por volta de 2011 ou 2012. E, na altura, desenvolvemos uma aplicação de pagamentos peer-to-peer que se chamava cashtag. Era um MB Way bem feito”, vincou o CEO da Switch.

Na cashtag “o plano era ganhar volume do lado dos consumidores com transações gratuitas para depois começar a atrair negócios e cobrar transações comerciais”, disse Ruca Sousa Marques. “Isso exigia que levantássemos uma quantia significativa de dinheiro. Mas, naquela altura, não era a loucura que é hoje em dia. Estávamos numa seed round de mais cinco milhões de euros e não conseguimos. Tivemos de abandonar ideia”, referiu o CEO da Switch.

Desta experiência ficou “um conhecimento muito acima da média do mercado”, adiantou o CEO da Switch. “Percebemos que havia uma opotunidade para dar um passo atrás na cadeia de valor [dos pagamentos] e tornar-nos na empresa com a qual a cashtag gostaria de ter trabalhado”, referiu. E assim nasceu a Switch, incorporada em 2014. “Criámos a capacidade de se iniciar uma ordem de transação dentro da plataforma da Switch e, independentemente do canal de pagamento, a comunicação com a API da Swicth é exactamente a mesma”, explicou Ruca Sousa Marques.

Traduzindo por míudos, a Switch desenvolveu uma plataforma tecnológica que permite a qualquer comerciante processar pagamentos dos seus clientes, numa lógica de plataforma as a service, independentemente da forma como o comerciante pagar. “Nós tratamos dos ‘rails‘ de pagamentos. O que estamos a propor [aos comerciantes] é que se foquem naquilo que sabem fazer e que externalizem a função de pagamentos”, disse o CEO da Switch.

Questionados sobre quem são os clientes típicos da Switch, os três fundadores da fintech sediada no Porto não revelaram. Mas referiram que são empresas com um grande volume de transações que geralmente atuam nas indústrias do retalho e financeira. “Temos instituições financeiras. Por enquanto ainda só temos bancos e instituições de pagamentos, mas as fintech estão a chegar” ao leque da clientela da Switch, revelou Ruca Sousa Marques.

“Podemos dizer que há muito dinheiro, bastante dinheiro a circular nas economias onde os nossos clientes atuam por causa da nossa plataforma”, anunciou André Tavares. “E estamos a falar de muito dinheiro”, frisou.

Uma startup que não ‘queima’ dinheiro

“Um dos segredos da Switch foi não termos levantado dinheiro no início”, vincou André Tavares. “Ainda hoje acho isso”. Desde 2014, ano em que foi fundada, a Switch apresentou resultados positivos e, talvez por isso, se distinga de muitas startups que foram à Web Summit em busca de investimento. “A premissa foi essa, com uma mentalidade muito post-startup bullshit“, referiu Ruca Sousa Marques. “Os negócios foram feitos para fazer dinheiro e não necessariamente para levantar capital”, adiantou o CEO da Switch.

“Decidimos ser uma empresa com lucros e não nos focarmos em levantamento de capital. Isso obrigou-nos a ser bastante focados e ter uma relação íntima com o mercado”, vincou Ruca Sousa Marques.

A única ronda de investimento da Switch ocorreu em 2017. O valor, uma vez mais, não foi discriminado, mas serve de “almofada”, explicaram os fundadores da fintech portuguesa. “Há investimentos nesta área que são grandes, que custam imenso dinheiro. Os longshots na área de pagamentos exigem muita gente a desenvolver, exige certificações. É todo um conjunto de processos que são caros”, explicou André Tavares, COO da Switch.

“Como não tivemos investimento, decidimos gerir bem o nosso dinheiro, focarmo-nos em poucos clientes, mas grandes, porque isso significa que o nosso tempo investido em um retorno maior”, reforçou André Tavares. “Há a ilusão de que na web só é preciso um computador, desenvolver [programação] à noite e aos fins-de-semana, e depois vende-se para o mundo. Mas, isso é uma tanga”, salientou o COO da Switch.

Atualmente, a equipa da Switch é composta por 22 elementos, “mas em número fazemos aquilo que uma startup com 60 consegue fazer”, referiu André Tavares. “Há imensas empresas, incluindo em Portugal, que contratam imensas pessoas para justificarem investimento e, inclusivamente, o IPO”, opinou.

O objetivo no imediato passa por incrementar a equipa e expandir a atividade, abrindo um escritório em Lisboa, uma decisão recente. “Estamos a recrutar, temos entre dez a 15 vagas e queremos informáticos e project managers“, explicou Ruca Sousa Marques.

“Queremos pessoas com amor à tecnologia – e isto tem de ser transversal a todas as posições –, que tenham amor à eficência. Aqui não se trabalham long hours, mas sim good hours. Queremos pessoas que sejam auto-suficientes. Como estamos a crescer bastante rápido, não fazemos baby sitting. Não temos escorregas nem piscinas de bolinhas [nas instalações]”, disse o CEO da Switch.

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