A cerca de um ano das eleições legislativas, os partidos com aspiração governativa começam a preparar os seus programas e vão-se constituindo os governos-sombra. Os partidos políticos, muitas vezes reféns de lógicas de curto-prazo e das opções mais populares, acabam por propor manifestos eleitorais para um horizonte “ano + 1”, quando muito “ano + 2”. Já no que diz respeito aos “papabile”, os partidos apresentam-se a eleições sem evidenciar os seus ministros-em-potência. A identificação dos membros do governo seria, indubitavelmente, um contributo para a transparência e accountability do sistema político.

Neste particular, emerge a temática da orgânica do governo. Independentemente da calibração de determinados ministérios – por exemplo, foi um erro ter-se retirado a Energia do Ministério do Ambiente, mas, por outro lado, fez todo o sentido integrar a Mobilidade neste ministério –, importa desenhar um modelo que ofereça uma melhor resposta aos desafios da administração pública (AP).

Tendo presente um vasto conjunto de situações esdrúxulas, ocorridas principalmente no último governo – i.e., incapacidade na previsão e reação a incêndios, inadequação dos sistemas de segurança de instalações militares, caos nos serviços de saúde e de educação, entre outros –, emerge a necessidade de modernizar a gestão de operações no Estado. Se desde as PME às grandes multinacionais existe um Diretor de Operações ou Chief Operations Officer (COO), será que o Estado deve prosseguir uma gestão amadora?

Defendo, com efeito, a existência de um ministro de Estado com o pelouro da gestão de operações. Numa democracia madura, este ministro (tal como os restantes) deveria ser remunerado de acordo com valores do mercado, de forma a atrair os melhores quadros.

Se eu fosse o responsável pelo head hunting de um COO para o Governo, lançaria o seguinte anúncio.

Perfil e competências:

  • pelo menos 5 anos de experiência empresarial em funções executivas ou de alta direção;
  • pelo menos 10 anos de trabalho nas áreas de gestão de operações, de produção, de negócio ou de infraestruturas;
  • formação em engenharia ou gestão;
  • MBA ou PhD em investigação operacional.

Funções a desempenhar:

  • Controlo e previsão orçamental de toda a AP;
  • Definição de indicadores e metas para desempenho da AP;
  • Modelo para o insource/outsource de atividades, incluindo análises custo-benefício sobre privatização e alienação de instituições públicas;
  • Simplificação e desburocratização de procedimentos;
  • Desenvolvimento da cultura de serviço ao cliente;
  • Programa de qualificação dos técnicos da administração pública;
  • Gestão centralizada dos processos de procurement;
  • Criação da figura de Gestor Local de Recursos (para controlo dos consumos de energia, água e materiais);
  • Adoção de política de transporte assente na mobilidade elétrica (modo ferroviário e rodoviário individual);
  • Roteiro para digitalização de processos e lean office, incluindo o investimento em sistemas de videoconferência.

Se ambicionamos deixar de ser governados à vista, com metodologias e ferramentas anacrónicas, chegou a hora de profissionalizar a gestão pública. Estarão os partidos à altura do desafio?