Numa altura em que a discussão sobre o futuro da educação, no seu geral, tem retornado à esfera pública pela expectável falta de professores num futuro próximo, tenho que vos falar de outro problema, apenas aflorado aqui e ali: a falta de Professores do Ensino Superior. Estando a reportar-me a uma realidade à qual estou particularmente ligada, não posso, ainda assim, deixar de abordar o tema.
Não vos vou maçar com as estatísticas do costume: os níveis de inovação, desenvolvimento, redução de desigualdades, eficiência e eficácia das políticas públicas, etc., estão correlacionados com o maior desenvolvimento dos países e com uma maior satisfação dos cidadãos, só para vos dar um exemplo. Tudo o anterior está também ligado a uma Universidade melhor. Uma melhor Universidade está dependente de melhores Professores e… os Professores serão melhores se forem Investigadores (e vice-versa).
Na verdade, sabe-se com base em muita investigação feita ao longo dos anos que integrar e juntar investigação e actividades de docência é de grande importância para melhorar o conhecimento, em geral, e esses académicos (e os estudantes também) serão melhores em ambas as actividades. A excelência numa e noutra actividade é potenciada por esta relação – a qual é importante para aquelas que são as decisões na área das políticas públicas do Ensino Superior. E porquê? Porque há que olhar para a reforma da Universidade portuguesa a partir das carreiras daqueles que a fazem.
Não sou, certamente, nem a primeira nem a última a referi-lo, mas é relevante trazer à tona esta necessária relação: investigação e ensino. E, a partir daí, reformular aquilo que são as funções dos académicos na Universidade sejam eles Professores, Investigadores ou, idealmente, ambos.
Sabemos que os Professores Universitários leccionam demasiadas horas e têm, em média, muitas horas (demasiadas também) dedicadas a actividades administrativas. Sabemos que aos Investigadores Universitários não é raro serem-lhes vedadas oportunidades de leccionar, de participar na avaliação de provas académicas e até de orientação.
Ora, se sabemos que os Professores serão melhores se puderem investigar e que Investigadores farão melhor investigação se leccionarem, porquê esta insistência em não cruzar actividades que estão (deveriam estar, digo eu) umbilicalmente ligadas? Mas, para isso, falta-nos coragem. A coragem de rever um sistema que está muito longe do ideal. Falta-nos abraçar o facto de os Professores pecarem por falta de tempo para investigar, só o conseguindo fazer ao nível de excelência internacional apenas em raros casos e, diria mesmo, quase por milagre.
Aos Investigadores falta uma real integração nas instituições académicas, facto que só rara e pontualmente acontece. Não sei qual é a solução. Não sei se a manutenção das duas carreiras é a solução. Não sei se integrá-las, com medidas inteligentes, é a solução. O que sei é que o estado em que estamos não gera avanços que precisamos. Termos académicos de costas voltadas uns para os outros porque em carreiras paralelas, mas em competição, servirá a alguém, mas não aos próprios.
Esta situação também não serve aos estudantes que ansiam por uma melhor Universidade. E muito menos serve à Universidade, que se quer a melhor que pudermos ter.
A autora escreve de acordo com a antiga ortografia.