Lembro-me da altura, senão mesmo do dia concreto, da dissolução da Assembleia da República e, em consequência, da queda de Pedro Santana Lopes. Tinha 11 anos, estava no Alentejo, no monte dos meus avós. Recordo-me de ouvir o meu pai dizer que o que estava a acontecer era uma “precipitação” e que o “homem não tinha tido a oportunidade de fazer o que quer que fosse”. Desde esse momento que simpatizo com Pedro Santana Lopes. Na altura, não fazia ideia quem ele era, mas aquilo simplesmente não pareceu justo.

Hoje, essa simpatia de miúdo converteu-se, confesso, numa preferência absolutamente racional. Pedro Santana Lopes não é, naturalmente, um político qualquer. É verdade que passou por muito, perdeu muitas vezes, fez escolhas pouco inteligentes, foi precipitado e pouco cauteloso, sofreu bastante e teve uma dose considerável de azar. Para alguns, tudo isto é razão para desconfiança e fundamento para rejeição. Eu acho precisamente o oposto. Tenho, na verdade, o maior receio daqueles impolutos para quem o erro está reservado aos seres inferiores.

Fruto de uma longa experiência política, profissional e cívica, Pedro Santana Lopes é um excelente candidato a líder do Partido Social Democrata. E não é necessário qualquer exercício de comparação para constatar isso mesmo. Aos 22 anos, Santana Lopes era adjunto do ministro Álvaro Monjardino, no IV Governo Constitucional. Com apenas 23 anos era assessor jurídico de Francisco Sá Carneiro, então primeiro-ministro do VI Governo Constitucional. Foi-o, infelizmente, até 4 de Dezembro de 1980 e só por milagre não ia no avião que se despenhou em Camarate.

Mas a vida continuou. Foi deputado diversas vezes. Tornar-se-ia, em 1985, secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros, em 1987, deputado do Parlamento Europeu e, em 1990, secretário de Estado da Cultura, cargo que exerceu por duas vezes. Já com cerca de 40 anos, seria eleito Presidente da Câmara Municipal da Figueira da Foz e, mais tarde, da Câmara Municipal de Lisboa, chegando, em 2004, com a saída de Durão Barroso, a primeiro-ministro do XVI Governo Constitucional. Todo este historial, mas fundamentalmente a sua personalidade e o seu carisma fazem de Pedro Santana Lopes um bom candidato à liderança do PSD.

Todavia, a candidatura de Santana Lopes não espera um caminho fácil e um sucesso garantido, pois existem diversos factores a ter em consideração nestas eleições, entre os quais, destaco dois.

O primeiro, prende-se com a sua capacidade para ganhar as próximas eleições legislativas. O sucesso de Pedro Santana Lopes dependerá da forma como os militantes olham para o seu passado, mas, sobretudo, da forma como os militantes vêem o olhar dos portugueses sobre o seu passado. Ainda que sobre esta matéria se façam algumas clarificações, é fundamental que a confiança no futuro, em particular na vitória das próximas legislativas, seja o centro da mensagem política, pois é essencialmente nisso que os militantes vão basear o seu voto.

O segundo factor tem que ver com o seu posicionamento ideológico. Enquanto Rui Rio, aparentemente, optou por se posicionar no centro-esquerda, Santana Lopes, elegeu o centro-direita como o seu campo de governação. Deixando de lado a nossa opinião sobre estes “rótulos políticos”, reconhecemos que esta diferença é fundamental para qualquer militante que procure escolher o candidato à liderança interna. Na verdade, esta definição ideológica é fundamental para a próxima década do PSD. É, apesar de tudo, crucial, que seja transmitida uma mensagem de aposta nos pilares e valores do Estado Social. E não, não é necessário governar à esquerda para o fazer.

Chegados aqui, no meio da evidente incerteza de quem sairá vitorioso das eleições no dia 13 de Janeiro de 2018, uma coisa é certa: depois das eleições é exigido a todos os militantes um novo compromisso, um compromisso não só com um ou outro líder, mas acima de tudo, um compromisso com o país. É este compromisso que merece a união de todos e precisa da união de todos.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.