A propósito da CGD e do Novo Banco (NB) reacendeu-se a diatribe contra a “maldade” congénita da gestão pública versus a “bondade” intrínseca da gestão privada.

A gente percebe a coisa. Depois do desastre calamitoso da gestão privada da banca privada, da gestão privada de grandes empresas privadas há que defender a dama. Há que justificar por que razão os conhecidos “contribuintes portugueses” tiveram, e têm, de contribuir para esse peditório privado. E não foi apenas na banca. Os ditos processos especiais de revitalização (PER) estão cheios de prejuízos públicos. Naturalmente, continuando a diabolizar a gestão pública ou o que consideram ser gestão pública… para assim absolver a gestão privada.

Camilo Lourenço (CL), repete a tese de outros: o problema não foi da gestão privada, não senhor. Foi das privatizações terem sido feitas a portugueses sem dinheiro, que tiveram de se endividar para adquirir as empresas a privatizar. Se tivesse sido a “verdadeiros capitalistas, mesmo que estrangeiros”, “muito provavelmente”, outro galo cantaria! Há pai que é cego… e as que estavam na mão de estrangeiros como a PT? O que aconteceu por esse mundo fora, incluindo na Europa, a começar na Alemanha e acabar na Itália? E as que não tinham resultado de privatizações, como o BPN?

Miguel Sousa Tavares (MST) – que se tivesse um pouco de pudor ficava pelo anticomunismo e não falaria destas coisas –, declara que o governo de Passos Coelho “deveria ter ajudado a salvar o banco”, isto é, o BES, dando ordens à CGD para que “subscrevesse 700 mil” dos “dois mil milhões de recapitalização” tentada, já em desespero de causa, por Ricardo Salgado. E, face às propostas de “nacionalização” do NB, pergunta: “Onde é que a gestão pública provou ser alternativa – no Banif, na Caixa, no Novo Banco?”. Extraordinário! Então o Banif tinha uma gestão pública? E no NB, mesmo sem qualquer avaliação positiva da gestão nomeada pelo governo PSD/CDS, o problema foi da gestão ou do enorme buraco herdado do BES?!

Esta gente recusa pensar o que poderá ser uma “gestão pública”! Para CL o problema é que se deixou que “a gestão de um banco público (CGD) obedecesse a critérios políticos”! Então quais são os critérios que devem presidir, vindos de uma tutela pública?! Critérios privados? O problema é que essa gestão, de pública só tem o nome, porque sucessivas administrações sempre concretizaram uma gestão com critérios privados, exactamente idêntica às dos bancos privados, de onde aliás vinham os gestores que as compunham. Idêntica nas apostas bolsistas (Berardo/BCP) e imobiliárias (centros comerciais, Vale do Lobo, etc.). Idêntica nos fretes ao grande capital (La Seda, Pescanova, CIMPOR, etc). Idêntica nas aventuras da internacionalização (banca em Espanha e PPP em AE de Espanha e Grécia). Idêntica na subestimação e desvalorização das PME e sectores produtivos nacionais. É de facto notável, mas compreensível, que MST, que invectiva a gestão pública da CGD, quisesse que ela se enterrasse mais, fazendo outro enorme frete ao Grupo Espírito Santo!

Mas, a CGD, apesar da má gestão, contribuiu para os cofres do Estado, entre 2004/2014 com 3,5 mil milhões de euros. É uma pequena, mas substancial diferença… entre gestão pública e privada.

O autor escreve segundo a antiga ortografia.