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Eric Topol na frente da revolução da medicina

Weekend: A equipa da Instinct deixa-lhe sugestões de entrevistas, livros, filmes, séries, podcasts e artigos que o/a vão ajudar a entender, refletir e inspirar sobre o futuro para inovar com impacto.
Foto: Antonio Gibotta, Agenzia Controluce
18 Novembro 2022, 14h27

Por: Sandra Lucas Ribeiro | Managing Partner na INSTINCT.

Li há anos um livro, quase 10 anos depois de ter sido publicado, que mudou por completo a minha relação com o corpo.

Estávamos no início da era digital e Jean-Paul Lévy, o famoso hematologista e imunologista reconhecido pela investigação em genética molecular e pela luta pela descoberta de uma vacina contra o HIV, antecipava no seu livro Le pouvoir de guérir – o poder de curar (1991) uma visão, na altura assustadora, de um corpo visto como uma máquina🧍🏼 > 🤖  e de um médico visto como um mecânico👨🏼‍⚕️ >🧑🏼‍🔧 . Apesar do propósito do livro ser traçar a evolução das doenças, das curas e das práticas médicas ao longo da história, a visão que Lévy antecipava do futuro estava certa.

Com os anos, a visão assustadora desvaneceu-se, passou a ser um hábito que nos leva ao médico para fazer uma “revisão” com a mesma ligeireza que levamos o nosso carro também ele à revisão.

Quando o americano Eric Topol lançou o livro The Creative Destruction of the Medicine – a destruição criativa da medicina (2010) tive a sensação que um novo (e muito diferente) capítulo da história da medicina estava a começar. O poder de curar era, agora, antecipado pelos dados biométricos que alertavam, por exemplo, para o risco de enfarte.

Recordo-me de ver uma reportagem na NBC sobre o dia a dia de Eric Topol, monitorizando remotamente vários doentes através de um dashboard que recebia, em tempo real, os eletrocardiogramas que os pacientes faziam através de um add-on rudimentar, um verdadeiro protótipo acoplado aos smartphones. E assim, conseguiu salvar muitas vidas.

A adoção digital foi rápida e foi mais rápida do lado dos pacientes do que do lado dos médicos. Da mesma forma que os equipamentos digitais que temos em casa são, muitas vezes, melhores do que os equipamentos que temos no trabalho. O Google substituiu as enciclopédias e passou a ter todas as respostas (nem sempre as certas) aumentando o conhecimento do paciente. Alguns médicos passaram a “receitar um Apple Watch” dando mais poder ao paciente no domínio da sua biometria.

Quando Topol lança o livro The patient will see you Now – Agora o paciente vai vê-lo (2015), está claramente a alertar a comunidade médica para a transformação digital não só da medicina, como também, e sobretudo, do paciente.

Eric Topol é considerado um dos médicos mais influentes dos Estados Unidos. Cardiologista, professor em medicina molecular, editor-chefe da famosa publicação Medscape e do site theheart.org, entre tantas outras coisas. O seu dinamismo levou-o a dirigir vários programas de investigação na medicina de precisão, na inovação digital em saúde e na educação.

Entre 2018 e 2019 foi convidado pelo Reino Unido para liderar a transformação do SNS, com a missão de integrar a genómica, a medicina digital e a inteligência artificial. Temas que o apaixonam e que o inspiraram a escrever Deep Medicine – Medicina profunda (2019) demonstrando como a inteligência artificial pode transformar tudo o que os médicos fazem desde tomar notas nas consultas, analisar exames e até diagnósticos, dando mais tempo aos médicos, e acredita ele, podendo “criar a cura real que ocorre entre um médico que pode ouvir e um paciente que precisa de ser ouvido”.

Com um espírito muito aberto, uma linguagem sempre muito acessível e um entusiasmo contagiante, Eric Topol é a personificação da maior crença de Steve Jobs, que “as maiores invenções do século XXI, se situam na interseção da biologia com a tecnologia”.

Difícil, depois destas leituras, é aterrar numa realidade tão distante da visão de Eric Topol.

Artigo original publicado em SuperToast by INSTINCT.
Também disponível em Newsletter e Podcast.

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