A taxa de inflação dos EUA registou uma variação homóloga de 6,2% neste mês de outubro e o mercado de trabalho do país tem recuperado de forma significativa. Determinados economistas mostraram-se preocupados com o tamanho do plano orçamental de Joe Biden, e talvez eles não estivessem totalmente errados. É certo de que a inflação tem surpreendido grande parte das previsões e parece que na generalidade se poderia estar demasiado otimista em torno do desenvolvimento das cadeias de abastecimento, força da procura agregada bem como do seu impacto na inflação. Mas a conversa não deve ser essa.
“Temporários” versus “permanentes” é a única discussão do momento
De um lado é possível observar o argumento de que o crescimento da procura tenderá a abrandar à medida que os trabalhadores regressem ao mercado de trabalho, pondo então menor pressão numa subida dos salários. Para além disso, a diminuição das pressões sobre as cadeias de abastecimento a acontecer ao longo do ano bem como uma subida das taxas de juro, poderão também contribuir para uma descida da inflação.
No entanto, cada vez em maior número, temos economistas a referir que este já não é o cenário mais provável. O seu fundamento tem por base uma procura pendente e um mercado de trabalho que se prevê rígido ao longo do próximo ano. Acontecendo isso é bem provável que os salários subam e possam pôr então maior pressão numa subida dos preços através do seu mecanismo de wage pass-through (alocação de rendimento que contribui para a subida de preços).
Por último, estes argumentam também que não é certo que uma subida da taxa de juro possa conter de forma eficiente a atual escalada dos preços.
É certo de que a Reserva Federal irá a subir a taxa de juro, e que conter uma subida da inflação é consideravelmente mais fácil do que a motivar a crescer – não existe um limite máximo à subida de taxas, mas existe um limite mínimo (zero-lower bound). Por isso, seria muito surpreendente observar uma inflação alta durante muito tempo.
Mas não me parece que este seja o momento para discutir quem tem razão – se os “temporários” ou os “permanentes” – mas sim questões mais práticas do que fazer em cada circunstância. Por exemplo, quando é que a Fed irá aumentar a taxa de juro e de que forma se irá ajustar se a inflação continuar a sair acima do esperado? Como é que episódios de desinflação afetam os mercados, a economia americana e os mercados emergentes?
Portanto, nem está tudo bem nem estamos à beira de uma hiperinflação descontrolada.
Há claramente muito para pensar e a discussão que temos observado ao longo dos últimos meses em pouco ou nada acrescenta na resolução do problema. Apela-se sim a uma discussão o mais imparcial possível e sem cores ideológicas, com o objetivo de compreender o que de melhor fazer daqui para a frente.
Frederico Aragão Morais
Senior Market Analyst na Qaestum Capital
Este conteúdo patrocinado foi produzido em colaboração com a Qaestum Capital.
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