O resultado líquido para 2023 de 1291 milhões de euros da Caixa Geral de Depósitos (CGD), divulgado na semana passada, provocou alarido. Com estes lucros recorde, como referidos na comunicação social, a CGD entregará ao Estado 525 milhões de euros em dividendos.
Uns congratularam-se porque o banco público afinal não será prejudicial para os contribuintes portugueses, permitindo que estes sejam agora integralmente compensados pela capitalização de 2,5 mil milhões de euros que a CGD recebeu do Estado português em 2017. Outros disseram que a história estaria mal contada, faltando considerar 1,4 mil milhões de euros de verbas de anos anteriores.
E, no rescaldo das últimas eleições e da viragem política do país, houve quem se congratulasse apenas pelo lucro e reclamasse que este deixasse de ser o país onde se perseguem as grandes empresas com impostos extraordinários.
E será que este país é hostil às grandes empresas?
Por comparação com 2022, o crescimento dos lucros da CGD foi de 53%. No que ficou abaixo da média do sector financeiro – no total, os sete maiores bancos portugueses registaram lucros da ordem dos 4,6 mil milhões em 2023, uma subida de 68% face a 2022.
Mas como foi conseguido este resultado extraordinário? Para o conjunto do sector, o principal culpado foi a subida assimétrica das taxas de juro do crédito face às taxas de juro dos depósitos.
Quanto à CGD, tornou-se pública a diminuição do pessoal que tem ocorrido e que se vive na instituição um período de insatisfação, que gerou uma greve dos seus trabalhadores no início de março.
É que não há grande volta a dar a esta história – o crescimento dos lucros das grandes empresas contrasta com o contexto macroeconómico geral. Por exemplo, as últimas projeções do BCE apontam para um crescimento do PIB da zona euro de 0,6% em 2024. E com manutenção de taxas de juro altas.
Os últimos anos têm-nos presenteado com pequenos aumentos de salários, inteiramente absorvidos pela subida da inflação, nomeadamente em bens essenciais como a alimentação (enquanto o sector alimentar regista lucros extraordinários) e o crescimento dos juros dos montantes em dívida, tipicamente resultantes de crédito à habitação.
Há uma assimetria crescente entre os resultados de quem tem e quem não tem poder de mercado. Podemos narrar sob a forma de crescimento da desigualdade, mas no fim o que conta é o descontentamento geral que culmina em votos de protesto.
É que atenção, distraídos, assim este país não é para pessoas.