Enquanto andávamos distraídos no circo a que alguns chamam país, entre propostas absurdas de cercas sanitárias a etnias e troca de galhardetes a propósito de supostas aulas de políticos na telescola, o Estado transferiu 850 milhões de euros, 0,4% do PIB, para o Novo Banco.

Não bastava o facto ser polémico devido à actual crise económica, onde o mesmo Estado tem falhado o pagamento dos valores respectivos do lay-off às empresas, insólita foi também a resposta do primeiro-ministro. “Não sabia”, disse António Costa, que sabe de cor todas as medidas de confinamento impostas e tem sempre a resposta pronta nas entrevistas e no Parlamento. Não se apercebeu e pediu desculpa ao BE pelo facto, pasme-se, quando na verdade era aos contribuintes que deveria pedir desculpa e ao país a sua demissão.

Desde a venda do Novo Banco, em 2017, foi criado o mecanismo de Fundo de Resolução para injetar capital no banco. Desde esse ano, as injeções foram realizadas no mês de maio e este ano não foi exceção.

Convém desmistificar ao cidadão comum que o pomposo nome de Fundo de Resolução representa a entidade financiada pelos bancos que operam em Portugal que consolida nas contas públicas, e que não tendo disponível o valor necessário às injeções de capital no Novo Banco, todos os anos pede dinheiro ao Estado, comprometendo-se a devolver o empréstimo ao longo de 30 anos. Ou seja, estão os portugueses a pagar, se será pago espero estar cá para ver.

António Costa assegurou em pleno debate quinzenal na Assembleia da República que o Novo Banco não receberia mais dinheiro do Estado até nova auditoria. “Não haverá nenhuma injeção do Fundo de Resolução no Novo Banco até se conhecer a auditoria que está prometida, que está contratualizada e que tem de ser pública”. Mas recebeu. E soubemos pela imprensa. Mais. A injecção foi realizada antes de saírem as conclusões da nova auditoria de propósito.

As inusitadas palavras do primeiro-ministro, ao pedir desculpa ao BE por ter negado a transferência na AR e não ter sido avisado que a mesma tinha sido realizada no dia anterior pelo Ministério das Finanças, é realmente rocambolesca e suspeita, mesmo estando nós já habituados aos malabarismos do PS no que toca a dinheiro públicos.

Mas, grave e irresponsável, é esta decisão de comprometer ainda mais os resultados orçamentais e a responsabilidade financeira do país neste ano que não se adivinha fácil, e sabendo nós que o valor em causa seria essencial para fazer face às graves consequências sociais e económicas da pandemia de Covid-19.

Os avençados do regime desdobraram-se a vender na imprensa a teoria que Mário Centeno desautorizou o primeiro-ministro. Areia para os olhos. António Costa, e só ele,  terá de se responsabilizar por esta falha gravíssima.