As organizações e os seus líderes procuram incessantemente formas criativas de se tornarem mais competitivas. A tecnologia, os novos produtos financeiros e os normativos de qualidade têm-se assumido como suportes indispensáveis à gestão. Já o conhecimento mais profundos das pessoas, da forma como se comportam e como se  motivam para determinadas acções, continua a ser uma oportunidade por explorar na melhoria do ambiente de negócios, dos locais de trabalho e na realização profissional e pessoal dos que trabalham. Estou certo que muitos líderes ficariam particularmente interessados num novo programa informático que permitisse reduzir o absentismo na sua empresa, melhorar o desempenho, promover a comunicação e a produtividade das suas equipas. Estou menos certo que enquanto líderes fiquemos particularmente interessados em desenvolver em nós competências que visem a liderança das nossas equipas, nesse sentido. E ainda menos certo que estejamos disponíveis para pensar no que o (nosso) comportamento ético implica nestes objectivos, ainda que exista hoje largo consenso, baseado em múltiplos exemplos e evidência científica, de que uma liderança ética aumenta o significado das tarefas para os trabalhadores o que resulta em melhorias do seu desempenho, em maior efectividade da gestão de topo e em mais satisfação no trabalho. Refiro aqui a ética, como a demonstração de um comportamento normativamente apropriado ao sistema de valores sociais vigente, através de acções pessoais e relações e da sua promoção pela comunicação, reforço e tomada de decisão.

Trabalhar seriamente a ética das lideranças nas organizações, reduzindo os riscos de integridade, implica que deixemos de estar focados apenas na culpabilização, considerando mais a responsabilização a par de outros dois aspectos: como tomamos decisões, com os nossos atalhos, enviesamentos e tentações a fazerem-nos divergir das nossas intenções; integridade e comportamento ético não dependem só das nossas tomadas de decisão individuais, pois existem influências da sociedade, dos pares, dos que nos são próximos.

As lideranças, ao liderarem e ao se assumirem como referências, são determinantes para a prevenção de riscos de integridade e para a promoção de comportamentos éticos numa organização, pois contribuem decisivamente para o estabelecimento de padrões de conduta em termos éticos, influenciando através de níveis de vigilância e / ou desconfiança estas atitudes. Ou seja, num contexto de desconfiança e de aplicação generalizada de procedimentos de controlo, as pessoas podem tender a avaliar o comportamento geral como sendo pouco ético e adaptar os seus padrões de referência a essa percepção. Por outro lado, as lideranças devem saber e agir em conformidade com o facto da generalidade das pessoas pretender comportar-se de forma íntegra mas que todos alguma vez poderemos falhar, mesmo que possamos disso não ter consciência. Mais informadas, as lideranças podem ajudar a criar condições mais encorajadoras para a reflexão ética e para as consequências das escolhas éticas no dia-a-dia, partilhando dilemas de experiências passadas, garantindo mais consciência relativa a comportamentos e diminuindo possíveis dissonâncias.

Se a ciência, e a ciência psicológica em particular, nos pode ajudar a agir para além do senso comum, que por vezes nos atraiçoa, porquê continuar à espera de novos programas informáticos ou a querer carregar apenas no botão?