“O mercado de ações previu nove das últimas cinco recessões”

Paul Samuelson, 1966

 

Esta é a questão do momento e recessão a palavra mais pesquisada no Google. As recessões são complexas e mal compreendidas. Nas últimas duas décadas, ambas as recessões estiveram ligadas a grandes quedas dos mercados acionistas. A maior parte das pessoas que hoje trabalha só se lembra destas e especialmente da grande crise financeira de 2008. É natural que exagerem a sua magnitude.

Nos últimos 90 anos, a maior recessão durou 2,7 anos e a menor durou seis meses. As valorizações (bull markets) duraram dois a 15 anos, com retornos totais médios superiores a 350%. Os períodos de queda (bear markets) foram curtos, em média inferiores a 1,5 anos, e a perda média acumulada foi de 39% (ver A Grande Ilusão). Para aqueles que são diretamente afetados por perda de emprego ou bancarrota, isto pode parecer uma eternidade.

O que é uma recessão?

As recessões acontecem quando o output económico diminui após um período de crescimento. O National Bureau of Economic Research americano define recessão como “uma queda significativa na atividade económica distribuída pela economia, com duração superior a vários meses, normalmente visível no produto interno bruto real (PIB), rendimento real, emprego, produção industrial e nas vendas grossistas e retalho”. É definida como pelo menos dois trimestres consecutivos de crescimento negativo do PIB.

Embora cada ciclo económico seja único, as recessões passadas ocorreram devido a uma variedade de razões: taxas de juro crescentes, inflação e preços de matérias-primas e excessos de crédito. Tudo o que de uma forma geral prejudique os lucros das empresas de forma a desencadear redução de postos de trabalho, reduzir o consumo e pressionar ainda mais o crescimento económico, os lucros das empresas e os preços das ações. Estes fatores alimentam um ciclo vicioso que empurra a economia para a recessão.

Que indicadores alertam para uma recessão?

Apesar de em 1966 Paul Samuelson, Nobel da economia, alertar quanto ao perigo das previsões, é o que todos procuram saber e muitos julgam que conseguem fazer. Há alguns indicadores que nos permitem ter uma ideia global do estado da economia e sinalizar excessos e desequilíbrios que se acumulam.

Numa situação de normalidade, o dinheiro custa mais quanto maior for o período pelo qual fica imobilizado. Contudo, em agosto, a taxa de juro das obrigações do tesouro americano (OT) a dez anos caiu para 1,47% e a taxa das OT a dois anos cotou 1,51%. Este indicador tem sido largamente citado e mostra que a curva de rendimentos está invertida. Uma curva de rendimentos invertida é um sinal pessimista e no passado, embora só a posteriori, sinalizou recessões.

Os investidores devem ficar preocupados?

Sim, no sentido em que isto pode criar uma expectativa que se autoalimenta. Imaginando uma recessão, o consumidor reduz a despesa. Como consequência, os negócios reduzem investimento e postos de trabalho e quando nos damos conta, a contração acontece mesmo.

No entanto, hoje esta inversão da curva não pode ser lida como um sinal tradicional, uma vez que a curva de rendimentos está altamente distorcida por dois fatores: primeiro, taxas negativas na Europa – onde temos 16 triliões de dólares com yields negativos. E a segunda distorção é esta codependência, muito pouco saudável, entre os mercados e a Reserva Federal Americana (Fed), visto o mercado estar a exigir à Fed um corte nas taxas apesar de o estado da economia não o aconselhar.

Os EUA são o maior mercado financeiro do mundo e a prevalência de taxas de juro negativas, como acontece na Europa, terá implicações perversas na forma como o sistema financeiro funciona. O sistema não foi feito para operar com yields negativas. As yields negativas eliminam a provisão dos produtos de proteção financeira de longo prazo. Não é possível ter um bom plano de reforma com taxas negativas. Isto torna o consumidor e o agregado familiar muito mais avesso ao risco. Para além do mais, o sistema financeiro tem muitas dificuldades em operar e manter-se rentável.

O sistema financeiro americano está muito bem capitalizado e robusto, ao contrário do que aconteceu na última crise financeira. Outros indicadores, como a taxa de desemprego, consumo privado ou lucros das empresas não indicam abrandamento económico algum.

Como deve investir – esqueça a palavra ação, concentre-se no “negócio”.

Se os mercados financeiros fossem um calculador disciplinado do valor dos fundamentos económicos de uma empresa, os preços das ações flutuariam de acordo com os seus lucros e perspetivas de resultados futuros. No entanto, os preços das ações variam muito mais que os lucros. As razões, como é óbvio, são psicológicas, emocionais e não-fundamentais.

Na assembleia de acionistas da Berkshire Hathaway de 2007, um investidor questionou Buffett quanto à sua opinião sobre o ambiente de mercado. A resposta de Buffett é tão relevante hoje como há 12 anos. Buffett afirmou que, quando olha para o mercado, ignora 99,9% de toda a informação disponível porque ela não é relevante. No entanto, “de quando em quando”, Buffett e Munger “reparam num negócio que lhes parece atrativo, em termos de preço”.

“Charlie e eu não fazemos a mais pequena ideia onde o mercado estará na próxima semana, mês ou ano. Nunca falamos disso. É um assunto que nunca surge.”