Encontramos tubarão onde menos se espera. Cação, pata-roxa, tintureira, são espécies que, não tendo tubarão no nome, pertencem a este grupo, e são geralmente vendidas em peixarias a preços baixos. Fora do prato, o tubarão é consumido em forma de cremes hidratantes, vitaminas e até ração animal.

O comércio mundial à base de tubarões e raias movimenta mais de quatro mil milhões de dólares anualmente – e Portugal desempenha um papel significativo nesse mercado: ocupa a terceira posição na União Europeia em capturas destas espécies, é o segundo maior exportador mundial de carne de tubarão e o sexto maior importador de carne de raia.

Mas, no seu habitat natural, os tubarões desempenham um papel crucial na manutenção da saúde dos ecossistemas marinhos e equilíbrio da cadeia alimentar. Ajudam a regular as populações de outras espécies marinhas, conectam habitats nas suas migrações e são eles próprios reservatórios vivos de carbono. Ao controlar a abundância de outras espécies predadoras, os tubarões promovem a biodiversidade e o equilíbrio ecológico.

Além disso, ao eliminar os animais mais fracos e doentes, contribuem para a vitalidade genética das presas, desempenhando assim um papel essencial na resiliência e sustentabilidade dos oceanos. Onde há tubarões há vida marinha – e pesca.

Nos três minutos que leva a ler este artigo, estima-se que sejam pescados globalmente cerca de 600 tubarões e raias, num comércio que alimenta um mercado mundial complexo e opaco, ameaçando a sobrevivência destas espécies, comprometendo os ecossistemas marinhos e as comunidades locais que deles dependem. Estes dados destacam a urgência de regular e trazer transparência a este comércio, além de consciencializar todos os envolvidos na cadeia de valor.

Dado o papel central que desempenha nesse comércio, Portugal tem uma responsabilidade elevada na conservação e gestão sustentável destes animais, e deve liderar nas ações relacionadas com a melhoria dos sistemas de rastreamento e identificação de produtos derivados de tubarões e raias, bem como garantir uma pesca sustentável.

Preservar estas espécies é essencial não apenas para a biodiversidade marinha, mas também para a sustentabilidade económica das indústrias e das próprias comunidades locais que dependem de um oceano saudável.

A consciencialização e ação conjunta de governos, empresas e consumidores são essenciais para reverter a ameaça de extinção e proteger estes guardiões dos oceanos. Face ao desconhecimento sobre quais os produtos à base de tubarões e raias que estão disponíveis para o consumidor, a ANP|WWF lançou recentemente o Guia de (Não) Consumo de Tubarões e Raias, com recomendações para que todos possamos fazer uma escolha informada e evitar o consumo de tubarões e raias, especialmente as espécies ameaçadas.

Sendo um dos grupos mais ameaçados de extinção do planeta, os tubarões e raias precisam de destaque e de ser uma prioridade nacional nas políticas de conservação marinha e gestão de recursos naturais. Isto apenas será possível através da criação de um Plano de Ação Nacional para a gestão e conservação de tubarões e raias, um conjunto de medidas ao nível da pesca, comércio e conservação marinha, que devem ser implementadas o mais rapidamente possível se queremos evitar a tempo a extinção de muitas populações de tubarões e raias.

Se continuarmos a comer e usar tubarão e raia de forma não regulada, não vai existir futuro para estas espécies – e aí, quanto terá realmente custado comer tubarão e raia?