Lisboa tornou-se na primeira cidade do Sul da Europa a ser distinguida como Capital Verde Europeia em 2020, algo com que todos nos devemos congratular. Mas, até agora, essa distinção tem-se resumido essencialmente a um conjunto de anúncios e intenções que, apesar de positivas e necessárias, não bastam. A par das iniciativas já previstas, faltam medidas concretas na área da mobilidade, transportes colectivos, qualidade do ar e sustentabilidade energética.
Esta é uma oportunidade para aprofundar a implementação de políticas ambientais e sociais que contribuam para a melhoria do bem-estar e qualidade de vida das populações.
Desde logo, há desafios a que a Câmara Municipal de Lisboa deve dar maior atenção, como a qualidade do ar ou o ruído. Não podemos ficar indiferentes à poluição dos navios de cruzeiro, que tem efeitos muito negativos na qualidade do ar e na saúde pública. Por outro lado, o aeroporto no centro da cidade é um problema que não pode continuar a ser ignorado. A própria expansão do aeroporto compromete o cumprimento das metas de emissões de gases com efeito de estufa, o que é absolutamente contraditório e nada verde.
É preciso apostar mais na mobilidade colectiva e nos modos suaves. Depois da grande conquista da redução do preço dos passes, medida fundamental do ponto de vista social, económico e ambiental, é preciso aumentar a oferta, factor determinante para que os cidadãos utilizem o transporte colectivo em detrimento do automóvel particular, especialmente nos movimentos pendulares.
É verdade que a autarquia quer retirar da cidade 10 mil carros, mas este objectivo ainda está muito longe de poder vir a ser alcançado. E, contrariando o caminho que deve ser seguido, em vez de se apostar na expansão do Metro para a zona ocidental e para Loures, a CML e o Governo insistem na linha circular, que é um erro e uma oportunidade perdida na concretização deste objectivo. Aguarda-se também a chegada dos novos eléctricos rápidos – até 2021 estarão a funcionar apenas 20 dos 40 prometidos – e a expansão das linhas.
Importa referir que qualquer medida para a redução da circulação de carros na cidade deve ser acompanhada de alternativas fiáveis, seguras e atractivas. O objectivo não deve ser deslocalizar os carros de uma zona para outra, mas fazer com que, efectivamente, as pessoas não se vejam obrigadas a levar o carro.
Também não se pode ignorar que o eco-bus no Parque Florestal de Monsanto, que deveria estar a funcionar em 2017, se encontra muito atrasado. Além disso, as concessões a privados têm impactos negativos a nível da entrada de automóveis no interior do parque.
Tendo em conta os desafios ambientais que temos pela frente, é positiva a plantação de milhares de árvores mas, mais do que acções simbólicas, importa não esquecer a sua manutenção, pois não basta plantar árvores, é preciso cuidar delas. E são inúmeras as denúncias sobre árvores mal cuidadas e abatidas sem qualquer motivo, ao mesmo tempo que continua a ser contraditório que os projectos urbanísticos se sobreponham ao património natural já existente e que é pertença de todos.
O investimento previsto para a Capital Verde Europeia é de 60 milhões de euros e importa, desde já, conhecer o programa e, em concreto, o que está previsto para se poder medir o impacto das várias medidas e o que ainda falta fazer, devendo privilegiar-se uma acção transversal entre as diversas áreas do município, sem esquecer a fundamental participação e envolvimento da população.
Lisboa é a Capital Verde Europeia e, mais do que um galardão, este deve ser o impulso para fazer mais e melhor. Deve representar a mudança de políticas e de comportamentos que se impõem, através do compromisso com a sustentabilidade, o combate às alterações climáticas e a descarbonização. E deve ser uma prioridade política não só em 2020, mas nas próximas décadas, sem lugar para decisões políticas contraditórias com este compromisso.
Lisboa precisa de mais para ser mais verde e há medidas que podem e devem ser tomadas hoje.
A autora escreve de acordo com a antiga ortografia.